Exercícios poéticos, apaixonados e patéticos: pequenos mergulhos e vôos, para compartilhar...
24 de abr. de 2011
Ventos e movimentos azuis...
SONETO VIII
Se não fosse porque têm cor-de-lua teus olhos,
de dia com argila, com trabalho, com fogo,
e aprisionada tens a agilidade do ar,
se não fosse porque uma semana és de âmbar.
Se não fosse porque és o momento amarelo
em que o outono sobe pelas trepadeiras
e és ainda o pão que a lua fragrante
elabora passeando sua farinha pelo céu,
oh, bem-amada, eu não te amaria!
em teu abraço eu abraço o que existe,
a areia, o tempo, a árvore da chuva,
e tudo vive para que eu viva:
sem ir tão longe posso ver tudo:
vejo em tua vida todo o vivente.
(Pablo Neruda)
MEDIADORA do VENTO
Ligeira sobre o dia
ao som dos jogos,
desliza com o vento
num encantado gozo.
Pelas praias do ar
difunde-se em prodígios.
Tudo é acaso leve,
tudo é prodígio simples.
Pequena e magnífica
no seu amor volante
propaga sem destino
surpresas e carícias.
Pátria, só a do vento
de tão subtil e viva.
Azul, sempre azul
em completa alegria.
(António Ramos Rosa, in "Mediadoras")
A FESTA DO SILÊNCIO
Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
António Ramos Rosa,
em "Volante Verde"
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6 comentários:
El prodigio simple del viento, del azul, del silencio transido de palabras y de la palabra transida de silencio, de las alas, del goce, del camino de la inocencia y de la risa. Bello post, Analuka.
Muito lindos os poemas, parabéns pela postagem.Beijos
Estou me deliciando nessa viagem por seu blog. Levantei âncoras e abri minhas asas.A madrugada é longa e eu tenho muito a explorar. Obrigada pelo azul. Beijos!
Postagem lindissíma!
Bjs
Oi Analuka
Gosto de vir aqui e ficar viajando por suas páginas, seus posts inspiram contemplação. Lindos!
Adorei sua visita e os beijos pintados e os abraços alados azuis.
Beijos!
Tudoe muito lindo aqui! Bj blue!
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