Exercícios poéticos, apaixonados e patéticos: pequenos mergulhos e vôos, para compartilhar...
12 de nov. de 2006
remendos
A alma tecelã-fiandeira, ins-pirada, tece rendas e sonhos, novelos de nuvens, desejos, segredos, memórias, à procura de si, vertendo seu mel... Costura sensações (e corações?), recicla idéias e remenda emoções à custa das convicções-convulsões interiores que a fazem buscar a verdade invisível, vislumbrada através da trama (de suspiros? vontades? intrigas? mistérios?) . A alma atribulada, vagabunda e venturosa tece tais delicadezas, urdiduras-intrincadas, feito frágil guerreira-artesã, mendiga em suas riquezas, rica em meias-verdades... Ela se esconde e se enovela, tentando se encontrar e, ao esquivar-se, mais ainda se re-vela, manchada de tintas, de sangue e sal, lambuzada de lágrimas, doçuras e amarguras mescladas em seu íntimo tumultuado, matizado de amores... Sabe-se amada e amante, mas teme a entrega plena e espera, vacilante, calculando o alcance e a força dos fios (de ferro? de ouro? de aço?) antes de se lançar ao abismo, aos labirintos de sua alma-viajante. Ela é seu próprio Tesouro, Minotauro e Ariadne, e se salva ou se devora, ao sabor dos desejos delirantes-in-constantes que sempre se revelam vaporosos e voláteis, na beleza transitória produtora de prazeres e cintilações esparsas eternamente almejados por sua natureza errante... A lynda fiandeira-fragmentada gira em torno de si mesma, buscando o centro da mandala, onde está a chave-mestra que a ajudará a decifrar o próprio enigma ... Sem saber, a alma-tecelã está salva, pelo fio condutor do amor que a livra da perdição, pela ternura que anula o fel de um momento infeliz, pelo sincero desejo de Vida que em breve a fará encontrar alimento luminoso-etéreo para a insaciável sede de sentir, saber e ser... Alma fiandeira, tecida de poemas, estrelas e epifanias, êxtases e agonias, fiada por linhas lírikas e redes infinitas, neste instante-já, tenta se libertar da própria teia!... Presa à armad-ilha, cujos raios-fios-de-seda-e-luz a seguram, (e cegam? asseguram?) ambivalente-mente, a "proteção-prisão" (arma-dura) impede a libertação (de si), talvez apenas pelo necessário entre-meado-tempo, também tecido, bordado, des-fiado...Enquanto espera, recolhe flores, cores e fios que farão parte das próximas montagens, remendos, costuras, viagens ...sem fim nem começo, até descobrir que é tão eterna, fluida e fugaz quanto as bordas do mundo, e constatar que deixa (atrás e adiante) de si, na tessitura-escritura, rasuras e relevos, rastros e restos de dom e veneno, sinais indeléveis de luz e sombra pelos caminhos e tapeçarias, diariamente redesenhados...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário