Exercícios poéticos, apaixonados e patéticos: pequenos mergulhos e vôos, para compartilhar...

24 de jan. de 2013

DESEJO

"A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo."

(Gustave Flaubert)

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Imagem: "Musicista Onírica".
Pintura de Ana Luisa Kaminski

17 de jan. de 2013

O ESPELHO AZUL DE ANA LUISA KAMINSKI


(por Lau Siqueira) **************************


O que nos interessa no desbravamento dos conceitos de forma e conteúdo é a diminuição das lonjuras. A persistência de um olhar desfragmentado no discurso silencioso da arte. Foi nessa busca, percorrendo versos pelos caminhos da Idade Mídia, que encontrei o lirismo das cores e das formas na obra de Ana Luisa Kaminski - uma artista gaúcha, de Erechim, que vive em Florianópolis. A delicadeza, a sensualidade, a espiritualidade feminina, a perplexidade de uma predominância azul aberta às tonalidades de cada cor. Ana Kaminski faz da sua arte um ato de serenidade, de ousadia, de liberdade, de paixão, de amor e de permanente inquietação. Elabora através das suas imagens, um discurso para as alcateias e passaredos da própria arte. Até que se cumpra o que dizia Mondrian: “a arte desaparecerá na medida que a vida adquirir mais equilíbrio.” Utopia que cabe nas cores e na densidade temática que obra de Ana Kaminski revela. Uma poética de imagens atentas aos desequilíbrios do mundo e buscando recuperá-los.


O auto-retrato é sempre um bom caminho para compreendermos a espinha dorsal de uma produção artística. O encontro ético e estético na distância entre o criador e a criação. Rembrandt foi o artista que mais pintou auto-retratos. Foram cerca de 100 obras neste formato. Mas, de certa forma, toda arte é autobiográfica. Revela com maior ou menor intensidade, a trajetória e talvez a consistência mais plena de uma vida. O artista por sua vez é um ser que transcende a partir dos seus acúmulos, das suas levezas, dos seus afetos e das suas jornadas impactantes. Todas as suas asas e principalmente todas as suas percepções sobre o mundo afinam seus instrumentos. Nossa leitura dos quadros de Ana Kaminski se dá nesta perspectiva. Observando as técnicas utilizadas pela artista lembramos o saudoso poeta concreto Décio Pignatari que dizia ser a poesia um segmento das artes plásticas. Ana Kaminski nos mostra que o inverso também procede. Talvez revelando os antagonismos apontados por Mondrian e os caminhos para a sua inevitável superação. Utopicamente a artista segue em frente, existindo além dos limites. Construindo-se pelos rastros de encantamento, inquietação ou mesmo repulsa que sua verdade artística possa provocar. Ana Kaminski busca suas utopias a partir de uma inegociável transversalidade. Tudo isso num tempo em que, permanentemente, o futuro se encontra com o passado. Todavia, com a suave condução dos rumos apontados pela energia que une os pincéis às suas mãos e às suas conexões sensoriais e lúdicas. É poesia o que brota nas cores de Ana Kaminski! Num profundo espelho de onde a artista extrai da sua existência, de forma sequencial e filosoficamente bem estruturada. Sua arte é uma permanente fotografia da sua alma fêmea.


Segundo Antônio Callado, “o principal problema da arte do nosso tempo, em que estala por todas as juntas a armadura do capitalismo, é criar uma ponte entre o povo e o artista – e por povo entenda-se todo mundo, todos os não-artistas.” Essa ponte, Ana Kaminski encontra de forma consciente e consistente nas redes sociais. Primeiro no Orkut e depois no Facebook ou mesmo no blog Âncoras e Asas (www.ancoraseasas.blogspot.com). O fato é que com estes instrumentos a artista vai encurtando a distância entre a sua obra e um público cada vez mais afinado com seus traços. O que transborda em Ana Luisa Kaminski é a plenitude da artista diante do seu universo criativo. Ela revela em cada pintura um firme propósito estético e uma permanente busca. Nada melhor para representar o que a vida tem de mais intenso, de mais verdadeiro.


(Texto de Lau Siqueira, publicado em seu blog PELE SEM PELE)




PINTURA DE ANA LUISA KAMINSKI