Exercícios poéticos, apaixonados e patéticos: pequenos mergulhos e vôos, para compartilhar...

21 de dez. de 2010

Amar é...

‎"Aimer, c'est ..
...entrevoir la lumière à travers l'obscurité..."

(ALK)

AMAR é...
...entrever a luz através do nevoeiro...
...vislumbrar as cores do jardim, ao espalhar as sementes...
...acreditar que as árvores florescem após um rigoroso inverno...
...perceber a preciosidade dos bons momentos já vividos...
...aventurar-se ao vôo, equilibrando cautela e coragem!...

(Ana Luisa Kaminski)


"Que a força da Arte nos liberte e enalteça!
Que o amor propague o amor, e seja fecundo."

(Staëll Di Lukka)


"Com uma vida tão curta, com uma fonte de energia tão pequena, é simplesmente estupidez desperdiçá-la com tristeza, com raiva, com ódio, com ciúme. Aproveite a vida com amor, aproveite-a fazendo algo criativo, com amizade, com meditação. Faça com a sua energia algo que o eleve. E quanto mais alto for, mais fontes de energia estarão disponíveis para você."
(OSHO)


Pegue um raio de sol e faça-o voar lá onde reina a noite.
Descubra uma fonte e faça banhar-se quem vive no lodo.
Pegue uma lágrima e ponha-a no rosto de quem jamais chorou.
Pegue a coragem e ponha-a no ânimo de quem não sabe lutar.
Descubra a vida e narre-a a quem não sabe entendê-la.
Pegue a esperança e viva na sua luz.
Pegue a bondade e doe-a a quem não sabe doar.
Descubra o amor e faça-o conhecer ao mundo.


(Mahatma Gandhi)


“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade”.
(Carlos Drummond de Andrade)


IMAGENS: PINTURAS de ANA LUISA KAMINSKI e STAËLL DI LUKKA

10 de dez. de 2010

Matizes e movimentos

O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem...


(Guimarães Rosa)


‎"L'Amore è quello che mi fa volare in cielo e camminare sulla terra. L'Amore fa di me una persona viva...e la Poesia mi porta al luogo in cui il cielo e la terra sono la stessa cosa!"

(Pietro Dellova, in SCARPE DA DONNA, 2010)


MATIZES e MOVIMENTOS

Nos céus e nos mares da alma
misturas de mundos, matizes
movimentos, marés, melodias
fulgurações, cintilâncias
medos e emoções, harmonias...
Nos intervalos, nas notas, nas teclas
nas asas, pausas, aberturas
nos sonhos e acordes, balanços
prazeres, traços e ternuras
afinações e flores, fantasias...
Nos desejos, riscos e rastros
alizarin, lilases, violetas
espaços e tempos, loucuras
gôzos azuis e róseos, alegrias
nos vaivéns e viagens, nos ventos
na brevidade das borboletas...

(ANA LUISA KAMINSKI)


Matices y Movimientos

En los cielos y mares del alma
mundos entrelazados, matices
movimientos, mareas, melodías
fulgurantes, centelleantes
miedos y armonías...
En los intervalos, notas o teclas
En las alas, pausas, aberturas
En los sueños y acordes,
placeres balanceados
trazos y ternuras
flores perfectas, fantasías...
En los deseos, surcos y rastros
alazanes, lilas, violetas
Espacios y tiempos, locuras
gozos azules y rosas, alegrías
En los vaivenes y viajes, en los vientos
en la fugacidad de las mariposas...

(Tradução de IVÁN QUEDAZA)


AMAR COM ARTE

Coragem existe nos corações capazes de confiar, de amar, se entregar, fulgurar, perdoar, se arriscar e ver (sempre) o melhor nos seres amados!!!

A partir da prática do perdão e do cultivo constante da doçura, do respeito e da gratidão, é possível amar com arte e coragem. Amando com coragem, constância e delicadeza, existe lugar para alegria e luz na alma!!!

Amar com arte e coragem abre os portais da sensibilidade e liberta as asas da criatividade no ser.

(Ana Luisa Kaminski, primavera/2010)

29 de nov. de 2010

Horizontes...

Tempos atrás, postei este lindo texto de Lara Lunna aqui no blog. Hoje, publico-o de novo, pois de meu ponto de vista, ela estava especialmente "inspirada" quando teceu estas linhas!... Espero que apreciem.

HORIZONTE

Na vida encontro tantas coisa boas. O sol amanhecendo, escapulindo docemente e tingindo de dourado, rubi e turquesa a amplidão, a chuva que faz com que os passarinhos abram as asas, bico e peninhas para recebê-la em si, gorjeando de contentamento, além das plantas que parecem cantar a cada gota-dádiva recebida.
Poderia enumerar cada um destes milagres,todo momento, horas e dias, no entanto preciso te dizer que o que sempre me intriga na vida, além do constante maravilhar, é pensar o horizonte.
O fato perene é que de onde estiver e para onde voltar minha face, na direção de todos os pontos cardeais, sempre há um horizonte cheio de possibilidades, que parece esperar a partir do meu primeiro dia de vida. E ele está e sempre esteve lá.
Sei então que poderia caminhar em sua direção, de qualquer ponto, por toda a vida e quanto desejasse para, quem sabe um dia, conhecer uma lição prática de infinito. Estarei no ponto de partida, que é também o de chegada, que nos ensina que no dia em que seguirmos atrás do horizonte, princípio e fim se fundem, confundem e já não perduram mais quaisquer destes conceitos além do infinito, contínuum.
Talvez. É, quem sabe também seja este o conceito de vida. Talvez algum dia, sabe-se lá em que milênio, um "haja luz e houve luz" deu início a esta minha ou tua existência terrena para que sigamos perpetuamente, em linhas retas, abauladas, circulares, inteiras ou quebradas - não importa - vencendo ciclos, em direção ao horizonte telúrico, cósmico, sabe-se lá em que dimensão - já que são tantas - além das três que conseguimos compreender.
Sim, o horizonte é tão instigante quanto mágico, miraculoso. Minha definição é modesta diante de tanta grandeza. Faltam sinônimos, adjetivos. Mas ainda posso pensar, e para o pensamento não há limites. E por não ter limites, tanto para o pensar quanto para o desejo, me ocorre neste instante que de nada me valeria a imortalidade se não pudesse levar comigo certa dádiva maravilhosa. Pois, das incríveis mutações de nossa matéria, no surgir e desfazer-se, a cada ciclo, o único bem que poderemos manter na imortalidade são os sentimentos, o que pudermos sentir.
Destes, o amor é a benção absoluta. E é este que me serve, que espero, para o qual vivo. O amor, em todas suas manifestações. O supra-sumo da herança divina que há em cada um de nós e que, antes e depois que o fôlego da vida nos fugir, permanece e nos acompanha. Para sempre e sempre.
Interessante o vagar esgazeado dos pensamentos. Comecei no horizonte e terminei no amor. Como no infinito nada se finda, comecei do amor e...sigo para ver onde vai dar.

(TEXTO de LARA LUNNA)

26 de nov. de 2010

Olhar amoroso


O segredo de ser feliz consiste em extrair prazer das pequenas coisas, perceber os pequenos milagres do dia-a-dia, não esquecer do valor de cada instante, pois não sabemos quanto viveremos...

Muitas vezes, engana-se ao acreditar que a "felicidade" depende de possuir muitos bens materiais, conforto ou fama, ou de recebermos bastante amor e atenção dos outros... A verdadeira alegria nasce no coração de quem sabe apreciar e valorizar os milagres cotidianos, pulsa e vibra na alma de quem descobre que é ofertando amor, generoso e desinteressado, em suas múltiplas variações, que o receberemos de volta, além de obtermos mais saúde (física, mental, emocional e espiritual) - do que depende, aliás, grande parte de nosso bem-estar, disposição e força criativa!

O modo de "ser", "ver" e "sentir", portanto, parece mais importante do que o "ter", a não ser que estejamos falando de ter este olhar benigno, grato e amoroso!!!




DEDICO ESTA POSTAGEM AOS MEUS PAIS, BERNARDO E DÓRIS, POR TEREM ME ENSINADO COM SEU EXEMPLO O SEGREDO DE SER FELIZ, ATRAVÉS DO EXERCITAR CONSTANTE DO "OLHAR AMOROSO" QUE NOS FAZ PERCEBER E VALORIZAR OS MILAGRES E PRESENTES COTIDIANOS.

1 de nov. de 2010

Pulsações


Sôpros de vida
suavidade, cores, sons
pinceladas e pulsações:

A cada manhã, nova luz:
a vida se recompõe
se reinventa e refaz

Pétala por pétala
sílaba por sílaba
átimo por átimo

de amor e emoções
redesenhadas na palavra
escrita, dita ou sussurrada
que teço e bordo, incansavelmente, para ti...



(Ana Luisa Kaminski)

"BORBOLETA AZUL MUSICAL". Pintura de Ana Luisa Kaminski
............................................

A borboleta pousada
ou é Deus
ou é nada


(Adélia Prado)

27 de out. de 2010

Pequenas reflexões kaminskianas sobre o Amor...


Dias atrás, alguém que amo me disse que é durante situações difíceis, penosas ou tensas que podemos descobrir quem realmente nos ama, a partir de suas atitudes e reações... e então, pensei bastante sobre a verdade destas simples palavras. De fato, é quando passamos por apuros, ou quando falhamos e estamos frágeis, que descobrimos se alguém nos ama, realmente!... Nestes momentos, algumas pessoas podem ficar indiferentes ou frias, podem ser cruéis ou zombeteiras, podem até nos fazer cair mais um pouco ou pisar sobre nós, outras talvez nos lancem um olhar cínico ou nos desprezem... Entretanto, as verdadeiramente amorosas, estendem a mão, nos ajudam a levantar, tratam de nossas feridas, nos reanimam, procuram mostrar que existem modos de aproveitar o tropeço e até a queda como aprendizado, como chance de aprimorar o ser... Enquanto alguns se mostram insensíveis ao nosso sofrimento e angústia, e estão por perto apenas nas horas fáceis, leves e alegres, outros, mais leais, partilham dores e prazeres, de modo desprendido, mais maduro e generoso...


Quem ama, de fato, não nos desdenha na hora em que mostramos as facetas menos belas ou mais imperfeitas do ego, mas continua vendo e valorizando o que temos de melhor e precioso – e nos lembra disso, mesmo que nosso narcísico eu esteja partido em mil pedaços e a tola vaidade humana, estilhaçada!... O ser amoroso ajuda a catar os cacos e rejuntá-los, participa da reinvenção do caminho, do destino e da alegria.


Uma amiga querida lembrou-me destas palavras sensíveis e sábias de Clarice Lispector: “Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.” Seja qual for o sentido ou significado que damos à nossa viagem vital, certamente a escolha entre amar ou não amar faz muita diferença! Amar os outros, amar nosso trabalho, amar a natureza, amar a própria vida... pode ser o segredo por tantos esquecido, num tempo em que o amor-próprio e o culto ao individualismo parecem exacerbados, ainda que acabem conduzindo, no mais das vezes, à tristeza, à amargura, à decepção... O amor aos outros, por sua vez, se dispensado na mesma medida em que procuramos agradar a nós mesmos, acaba resultando em satisfação íntima, num júbilo invisível, mas reluzente, delicado, que faz brilhar os olhos, adoça e enternece a voz, enobrece os gestos, faz fulgurar as almas e resgata esperanças, valores e singularidades. Viver com amor, exercitar a amabilidade no cotidiano, esta é a maior arte!

4 de out. de 2010

Viagens Azuis e Aladas...

PARIS, FRANÇA


Queridas, queridos!
Estive viajando... e deixo aqui alguns registros fotográficos da deliciosa viagem, para partilhar beleza, colorido, luz e prazer com vocês. Viajar, lançar-nos para outros lugares, nos faz ver o mundo por outros ângulos e prismas, de maneiras diferentes, renovadas... Repensamos a História, as histórias, refletimos sobre os movimentos vitais, embaladas por ventos impregnados de sonhos, arte e emoções...
Desejamos SER e saber mais, buscamos nas alturas e profundidades, nas bordas e núcleos, nos mapas e diagramas, outros sentires e saberes, diversos modos de viver, amar e inventar... Arriscamos novos vôos. Viajar e aventurar-se pode ser, também, arte e artifício, passagem, descoberta de mundos e possibilidades dentro e fora de nós, abertura de infindas e fecundas reelaborações, de matizes, sentires e significações... É vital que estas viagens aconteçam, sempre, nas dobras do nosso cotidiano, para que descubramos, como diria Clarice Lispector, o "extraordinário" escondido nas frestas do banal!...


VENEZA, ITÁLIA

CINQUE TERRE, ITÁLIA


DEDICO ESTA POSTAGEM À CARÍSSIMA LEOA LARA LUNNA, com admiração e afeição aladas e azuis!

26 de jun. de 2010

Cinzas e cintilâncias do cotidiano...

Despertamos para a Vida que pulsa, que vibra, que vaza, que canta, a cada minuto e momento!!!... e adormecemos, às vezes, cobertos por cinzas do cotidiano, que obscurecem o colorido exuberante e vivaz dos instantes, quando sorvidos com intensidade, vontade, paixão!... Talvez, tenhamos que adormecer e despertar, tantas vezes, durante a trajetória vital, simplesmente para não esquecer de nossa fragilidade e força, para nos relembrar, todos os dias e horas, da finitude infinda de tal tessitura: dos fios que nos bordam, nos envolvem e enlaçam, das linhas que nos desenham, conduzem, entrelaçam, da urdidura incessante e mirabolante da história. Talvez, precisemos despertar e adormecer, sonhar, para que sejam reinventadas as cores e esperanças, as cintilâncias que entrevemos nas frestas do dia-a-dia banal...
Assim, vamos vislumbrando as fulgurações do afeto, do amor e da arte, nas aberturas das noites, das manhãs, dos meses, na travessia dos séculos, no girar do mundo, dos astros, das constelações... Quem sabe, nos arrisquemos aos vôos e travessias, e viajemos, à deriva, em alguns momentos venturosos de luminosidade azul-lilás, entremeados de turquesa, alizarim, violeta, e respingados de verde ou coral, em que possamos sentir a alma bailando aos quatro ventos, na direção deste saber insabido e volátil, mas profundo, que nos move, nos instiga, impulsiona!... Contudo, entretanto, todavia... para isso precisamos navegar com coragem, entre cinzas e cintilâncias, adormecer e despertar, alimentar as esperanças, exercitar as asas, todas as noites, todas as horas, todos os dias!!!


TEXTO DE ANA LUISA KAMINSKI
FOTOS: ATELIER AZUL-LILÁS DE LUNNA E LUKKA

5 de jun. de 2010

PASSIONE


PASSIONE ou, PORQUE MINHA AMIGA TEM ASAS
(por Pietro Nardella-Dellova)


Encontrei a amiga em uma manhã de sol, brisa suave e muita vida para viver, pois, afinal, não tenho tempo para morrer entre vampiros, asnos e vias públicas. E ela, então, perguntou-me sobre a palavra passione e seu sentido no modo italiano de viver.

Va bene! Não tente traduzir esta palavra em português, seja do Brasil, de Portugal ou de Angola, nem em inglês britânico e, menos ainda, em inglês americano! Em alemão não é possível sequer pensar em passione. Para o hebraico também não se pode traduzir e, por falta de uma palavra, o rei Salomão escreveu um livro todo sobre passione: o Cântico dos Cânticos (Shir HaShirim)! Enfim, não há tradução para passione! Seria preciso viver alguns anos na Itália, da Sicilia aos extremos alpinos. Seria preciso caminhar entre construções de pedra e ouvir pessoas cantando com suas janelas abertas e passar muito tempo em Napoli, em suas vias estreitas, descobrindo como nascem tenores e, quem sabe, beber em Milano com seu encanto feminino e multifacetado. Seria preciso ir a Firenze e descobrir o que é Rinascimento. Ou, simplesmente, ver um filme, talvez, Cinema Paradiso, Il Postino e Il Poeta ou La Vita è Bella!

Passione no modo italiano inclui variados aspectos, do tipo mergulhar de boca na mulher amada, promover o bem integral da mulher amada, fazer com que a mulher amada voe e, diante disto, aplaudi-la com entusiasmo incontido. É voar com a amada sobre os mares e fazer com que ela veja estrelas um montão de vezes até ficar vermelha e lançada sobre os lençóis com os cabelos esguedelhados – colorida e maravilhosa, como pintura feita à mão. Passione é viver um dia com a amada como se fosse a própria eternidade...

É uma experiência única, singular e linda! Não há esta coisa de chorar pelos cantos, beber até morrer, de magoar-se ou de prantear, transformando tudo em música sertaneja, cachaça e churrasco, isto é, em monólogos, rezas sem fim, pedidos a Santo Antonio e programas de auditório, com gritinhos e tudo. Não, de fato não! A experiência da passione é algo superior, capaz de transformar animais em gente, transeuntes em pessoas – é alguma coisa entre o Jardim do Éden e os desertos dos enfrentamentos humanos. É roubar o fogo de Zeus e entregar, doar, experienciar as musas noite adentro – ainda que isto custe o fígado durante o dia. Não é ficar com uma viola órfica na porta dos infernos chorando nostalgias sem fim e cortando-se os pulsos, mas descer aos infernos, fundo e consciente, dar umas boas porradas em Plutão e trazer Eurídice em beijos tresloucados, sonoros e escandalosamente públicos!



Passione não inclui egoísmo, mas, cumplicidade. Não inclui choro, mas risos. Não inclui oitavada desarmônica, mas a música plena e o canto pleno em afinação absoluta de corpos que se completam na delícia humana! É a experiência do diálogo – não da conversa! É um estado de envolvimento intenso que exige o mergulho na última gota de vinho: o mistério das pérolas escondidas no mais profundo deste mar tinto e bravio! Por isso mesmo, no estado de passione não se perde a última gota do vinho, aliás, nem se bebe vinho em duas taças e, poucas vezes, em uma. É experiência do vinho na boca, da boca na boca, da procura da gota do vinho no umbigo, no abdômen, nas faces, no pescoço, nos lábios, do perfume do vinho no seio desnudo – o movimento de vida! Passione é vida!

Passione é a intensidade com solidariedade. Fazer amor, intenso e sem limites, com amizade. O estado de envolvimento, com prazeres sem fim, mas, sempre, de mãos dadas, juntos, voando juntos. Não há previsão de futuro no modo passione – apenas de carpe diem, daquela intensidade presente que não se perde em prognósticos, futurismos, profetismos, rezas. No modo passione não lemos as linhas das mãos da pessoa amada, tentando ver seu dia porvir, apenas, beijamos as mãos, acariciamos as mãos, apertamos as mãos na intensidade plena do encontro dos corpos presentificados. Nas mãos não ficam linhas nem marcas, mas, impressões indeléveis de ternura, encontro e sabores do corpo inteiro!

Em passione ninguém pensa em morrer de dor ou de sofrimento, ou em arrastar correntes por corredores sem fim! Ao contrário, passione é luz, é salvação, é bênção. O momento máximo que dá sentido a uma pessoa, que a resgata da caverna e da mesmice cotidiana, pois é neste momento que é possível ver-se, encontrar-se e plenificar-se na pessoa amada! Na passione tiramos as asas da mala empoeirada e as colocamos de volta nas costas (e nos pés).

Minha amiga ficou em silêncio, trêmula e com os olhos brilhantes. E eu lhe disse: Hai Capito adesso? Então, ela olhou para suas costas e viu suas asas. Minha amiga tem asas!

Ah, minha amiga, passione nos faz voar, por isso não tem esta coisa de sofrimento, dor e choradeira. Depois que aprendemos a voar não tem mais jeito – é preciso voar sempre! Depois que você reencontra suas asas escondidas naquelas malas estranhas dos comportamentos socialmente compatíveis, sai de perto... Pois, elas grudam em suas costas e se tiver alguém por perto que não voa ou com tesouras nas mãos, ui... As asas grudadas às costas empurram idiotas ao chão, pois elas têm um poder próprio, vida própria, por isso mesmo, quando se abrem as asas o melhor é voar junto ou “vixe, fodeu!”, ou seja, cai a casa, cai o muro, cai a máscara, cai o beco, cai tudo e a vaca vai para o brejo! Asas é o que melhor retrata o movimento da passione! Gostou disso, amiga? Então, olhe para suas costas agora...wow!!! você tem asas! Quem se atreve a colocar você na gaiola? Como esconder esta maravilha que aparece no seu andar e no seu dia? Como prender você? Mulher! Encanto! Fogo! Vida! Inteligência! Voe! Abra suas asas, grandes, abertas e vença os olhares idiotizantes de asnos que passam!

E lembre-se, minha amiga, se alguém quiser ter você, na cama ou no sofá, o melhor a fazer é destruir gaiolinhas e aprender a voar...

Sem asas, ou seja, sem passione, as pessoas definham e perdem o canto. Especialmente a maioria dos homens, que têm medo psicanalítico de Freud e não resistem a cinco páginas de suas obras! Passam longe dele e sequer o mencionam, pois para ler Freud é preciso ter asas e senso de humanidade e, sobretudo, é preciso ter senso de si próprio! Voar é viver, mas, não para todos os homens! Todos não viverão nem voarão – apenas alguns. Porque para voar é preciso duas capacidades com habilidades expressivas. A primeira é ter asas! A segunda, é ver as asas de uma mulher e aprender a voar com ela, pois, somente a mulher pode ensinar o vôo a quem tiver asas. Se um homem souber ver asas em uma mulher, e se tiver as suas próprias asas, aprenderá com ela e voará alto e liberto. Mas, se tiver asas e for cego, suas asas serão sua mortalha e passará seus dias escondido entre arbustos edênicos, nomeando bichos, e terminará fazendo culto ao falo. Sim, o culto fálico é a condenação para quem não vôa, nem enxerga o vôo e, ao contrário, prefere se esconder nas cavernas de sua estupidez!

É no desenho feminino, nas asas femininas, na alma feminina e na intensidade feminina, que um homem pode ser homem completamente, com vôo, liberdade e alma! É ali, e apenas ali, que ele descobre o movimento da passione, o tempo, a experiência de voar e a vida na plenitude de uma gota de vinho.
Ecco, amica mia, la passione è così!

(28 de maio, 2010)


© Pietro Nardella-Dellova é Escritor e Poeta. Professor de Direito e Arte Literária em graduação e pós-graduação. Autor dos livros AMO (89), NO PEITO (89), ADSUM (92), FIO DE ARIADNE (org/tex), A PALAVRA COMO CONSTRUÇÃO DO SAGRADO (98), A CRISE SACRIFICIAL DO DIREITO (2001) e, agora, do A MORTE DO POETA NOS PENHASCOS E OUTROS MONÓLOGOS (2009).

TEXTO DE PIETRO NARDELA-DELLOVA
PINTURAS DE ANA LUISA KAMINSKI

23 de mai. de 2010

Voz dos Olhos

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente,misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas


(e. e. cummings)




Reminiscências


pende do galho uma paisagem com pássaro preso
como coração com árvore nevada dentro.
tempo de voltar às montanhas,
aos cumes, se cobrir de nuvens.

deserto de alma preenchido de sol.

II

deita-te na boca constelada.
o verbo foi maculado,
algumas crianças se perderam
e a infância ficou menor.
enlarguece a Casa
para caber as palavras infantis.


III

a terra alimentada pelo mistério de tua sede
amanheça girassol doado ao ventre.

(LUCIANA MARINHO)
.........................

"A coisa mais maravilhosa do mundo que podemos experimentar é o mistério. Ele é a fonte de toda arte e ciência verdadeiras. Aquele para quem esta emoção é estranha, que não consegue mais parar, admirar e maravilhar-se, está praticamente morto: seus olhos estão fechados."

(Albert Einstein)
...................


Fotomontagem de FLAVIO PETTINICHI

...........

10 de mai. de 2010

Véus, avessos, versões...




In-conclusão

Vou desenhando meus dias e noites
sobre o avesso ou direito da tela
compondo com cinzas e cintilâncias
fazendo da vida, tão ligeira e bela,
caminho com encruzos matizados
história de afetos entrançados
mapas e diagramas de errâncias
reflexos, reflexões e ressonâncias
da alma que transita pelo cosmos
te encontrando em letras e hiâncias!...


POEMA DEDICADO À STAËLL DI LUKKA
IMAGEM E TEXTO DE ANA LUISA KAMINSKI
(detalhe do quadro ELFO AZUL)

6 de abr. de 2010

MosaiKo MusiKal

"Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte para ver a alma." (GEORGE BERNARD SHAW)


Soneto das Definições


Não falarei de coisas, mas de inventos
e de pacientes buscas no esquisito.
Em breve, chegarei à cor do grito,
à música das cores e do vento.


Multiplicar-me-ei em mil cinzentos
(desta maneira, lúcido, me evito)
e a estes pés cansados de granito
saberei transformar em cataventos.

Daí, o meu desprezo a jogos claros
e nunca comparados ou medidos
como estes meus, ilógicos, mas raros.

Daí também, a enorme divergência
entre os dias e os jogos, divertidos
e feitos de beleza e improcedência.


(Carlos Pena Filho)

Pintura de Greg Couch

RESTAURAÇÃO:...

procuro a paz que existe nas palavras
teimosamente
e às vezes é preciso raspar tantas camadas de pinturas sobrepostas
que quase desisto

palavras muito limpas e polidas
costumam cintilar como as estrelas

quem saberá
se existe paz nas estrelas?


(ADELAIDE AMORIM)

...................................................................
O poeta é o que busca
na palavra a dimensão do átomo.
O silêncio extremo por detrás
de cada fato.
O poeta é o etéreo e o ácido
na pele dos valores estáticos.

Estéticos são seus baralhos.

O poeta é o vapor barato e o
lance de dados.
O acaso e o atalho.

Macalé e Mallarmé
no mesmo saco;

O poeta é um guapo.

(LAU SIQUEIRA)

.........................

IMAGENS DO SLIDE: Artistas diversos.

4 de abr. de 2010

Pentagrama

Pintura de Salvador Dalí

PATCHWORK #1

imersa em cena de Dali
bebendo chispas/raios mel
dos olhos teus
lágrimas caindo no rio
pentagrama
compasso de folhas
acordes de pássaros
e voz navalha
de Tetê Espíndola


(BÁRBARA LIA, no blog "Chá para as Borboletas")



Pintura de Salvador Dalí

"a voz que voa mais alto
e fala do que não sente
é som vazio

por outro lado
sussurros podem ser
grito
feito em fios."


(ADELAIDE AMORIM, no blog "Inscrições")


Pintura de Matisse

Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Caiu no álbum de retratos.


(Murilo Mendes)


Pintura de Paul Brent


Pintura de Vladimir Kush

18 de fev. de 2010

HORIZONTES AZUIS



HORIZONTE

Na vida encontro tantas coisa boas. O sol amanhecendo, escapulindo docemente e tingindo de dourado, rubi e turquesa a amplidão, a chuva que faz com que os passarinhos abram as asas, bico e peninhas para recebê-la em si, gorjeando de contentamento, além das plantas que parecem cantar a cada gota-dádiva recebida.
Poderia enumerar cada um destes milagres,todo momento, horas e dias, no entanto preciso te dizer que o que sempre me intriga na vida, além do constante maravilhar, é pensar o horizonte.
O fato perene é que de onde estiver e para onde voltar minha face, na direção de todos os pontos cardeais, sempre há um horizonte cheio de possibilidades, que parece esperar a partir do meu primeiro dia de vida. E ele está e sempre esteve lá.
Sei então que poderia caminhar em sua direção, de qualquer ponto, por toda a vida e quanto desejasse para, quem sabe um dia, conhecer uma lição prática de infinito. Estarei no ponto de partida, que é também o de chegada, que nos ensina que no dia em que seguirmos atrás do horizonte, princípio e fim se fundem, confundem e já não perduram mais quaisquer destes conceitos além do infinito, contínuum.
Talvez. É, quem sabe também seja este o conceito de vida. Talvez algum dia, sabe-se lá em que milênio, um "haja luz e houve luz" deu início a esta minha ou tua existência terrena para que sigamos perpetuamente, em linhas retas, abauladas, circulares, inteiras ou quebradas - não importa - vencendo ciclos, em direção ao horizonte telúrico, cósmico, sabe-se lá em que dimensão - já que são tantas - além das três que conseguimos compreender.
Sim, o horizonte é tão instigante quanto mágico, miraculoso. Minha definição é modesta diante de tanta grandeza. Faltam sinônimos, adjetivos. Mas ainda posso pensar, e para o pensamento não há limites. E por não ter limites, tanto para o pensar quanto para o desejo, me ocorre neste instante que de nada me valeria a imortalidade se não pudesse levar comigo certa dádiva maravilhosa. Pois, das incríveis mutações de nossa matéria, no surgir e desfazer-se, a cada ciclo, o único bem que poderemos manter na imortalidade são os sentimentos, o que pudermos sentir.
Destes, o amor é a benção absoluta. E é este que me serve, que espero, para o qual vivo. O amor, em todas suas manifestações. O supra-sumo da herança divina que há em cada um de nós e que, antes e depois que o fôlego da vida nos fugir, permanece e nos acompanha. Para sempre e sempre.
Interessante o vagar esgazeado dos pensamentos. Comecei no horizonte e terminei no amor. Como no infinito nada se finda, comecei do amor e...sigo para ver onde vai dar.

(LARA LUNNA)



Manuscrito del horizonte

A modo de un libro imaginario que pudiera escribirse con instantes, con notas inconexas y con imágenes, que quedasen así unidas en su propia elocuencia para enunciar algo intraducible: la vida que no sabe decirse buscándose en su horizonte.

Un manuscrito vivido, por lo que nos vive silenciosamente, que guardase la escritura de aquello por lo que vivimos. Un manuscrito que no existe, que siempre está por escribirse y reescribirse y que quedará por siempre incompleto. De páginas hechas de búsquedas y rastros. Una cartografía del asombro. El latido de una mirada que ve más allá de las superficies. Un manuscrito hecho de niebla y luces.

Un diálogo con el horizonte. Las semillas perdidas y escondidas en el desierto que aguardan la lluvia para germinar. El mar que desconoce su fuerza desgarrándose contra las rocas. Otra vida dibujada en una mirada inesperada que nos abre la existencia y los caminos. La aventura viva que somos y que habíamos olvidado, rescatada en la caricia de un alba que nos muestra la bahía que nos llama. El rastro unánime de lo que nos vivifica.

Un diálogo con el horizonte donde encontramos encarnada nuestra propia dignidad, nuestro mundo de posibilidades no vividas hondamente sentidas contra lo dado y clausurado.

(JUAN BAUTISTA MORÁN)



TEXTOS DE LARA LUNNA e JUAN BAUTISTA MORÁN
IMAGENS: PINTURAS de ANA LUISA KAMINSKI

1 de fev. de 2010

Miradas e miragens


Passeando por outros jardins de cores e letras, encontrei este belíssimo poema, que trago para partilhar com quem pousar por estas paragens:


Bajo el rocío de la ignorancia,
hoy cubren una suave manta de recuerdos,

mis pensamientos,
mientras que una lagrimas de sangre y alma,
se deslizan para morir en el mar,
recorriendo cada lado de unas mejillas,
que han tenido tus besos,
que han tenido tu sonrisa,
que han amanecido en el alba.

Bajo una estrecha sospecha,
pierdo mi ira, para convertirla en paz,
pierdo mi odio, porque le gana mi amor,
pierdo mis celos, porque nadie es dueño de nadie,
porque nadie es libre de los demás,
porque nadie es obra de los demás.

Bajo una mar de dudas,
llega la idea, la pasión, el confort, la calma,
la sonrisa que rompe el silencio,
la mirada que empieza en sonrisa,
y se escapa un beso en el aire,
y otro directo a las pupilas,

y otro que no es de nadie,
me lo guardo sirviente de mi corazón.

Bajo una luna llena,
dos almas solitarias van,
cogidas de la mano,
amantes son, de lo bello y lo justo,
amantes que se dan afecto, sinceridad y respeto.

Bajo un mundo dormido,
ya es amanecer, y te despierto con un beso,
con una caricia, con un abrazo,
con un buenos días, con una nueva ilusión.

Bajo estas letras, se esconden mi miradas,
una sonrisa que pincela el fondo de todo corazón,

unos colores, que simbolizan el amor, un te quiero,
y una vida con pasión.


(AUTOR DESTE POEMA: F. PEIRÓ )



IMAGENS: PINTURAS DE ANA LUISA KAMINSKI

26 de jan. de 2010

C0NCHAS, SONHOS, CARACÓIS E ANZÓIS AZUIS





Por vezes, pensamos
ser doces, desejáveis,
delicadas e estáveis
ou cremos ser o sonho
secreto de alguém...
Tentamos acertar o alvo
o centro do caracol
o buraco-negro do sonho
o lumiar do farol...
Sentimos alegria e leveza
e vemos asas fulgurantes
estrelas na alma amada
cuja configuração cintilante
é cosmo complexo e vicejante
que nos encanta e atrai...
Contudo, noutro instante,
rodopiamos, vacilamos
em volta do vórtice abissal...
Giramos e vamos ao fundo
do mar ou do mundo
se nos desdenha ou repele
este amor, num segundo...
Ou nos fechamos em concha
ao falhar e nos ferir
na tentativa vã e insistente
de compreender tal alma amada
tão benquista e desejada
em nosso íntimo universo...
Porém, de salto em salto, de vôo em vôo,
de queda em queda, ou tropeço em tropeço,
de tempos em tempos ou no vaivém dos ventos,
da tempestade à bonança, no balanço ou recomeço
às vezes nos surpreendemos com uma brisa imprevista
ao sermos chamadas, mais uma vez acolhidas
pela alma azul-lilás tão querida e mutante,
ornada por caracóis, protegida por espinhos,
coberta por líquens e anzóis,
enfeitada por sóis marinhos...
E então nos vemos no vértice,
no centro dos redemoinhos,
na dança das espirais
nos recônditos submersos
suspiros, sonhos e versos
entre conchas e coxas
a caminho de Vênus
nos paraísos siderais!...
Da imensidão celestial
os astros nos contemplam
sorridentes, complacentes
divertindo-se às custas
da poeira cósmica pulsante,
que vibra, chora, canta e ri,
destas partículas que somos
plenas de apetite e desejo,
de idiossincrasias e medos
de mistérios insondáveis
de fantasias e segredos
quase invisíveis mas duráveis...


TEXTO E IMAGENS DE ANA LUISA KAMINSKI


Dedico este poema à Amada Lunna Di Lukka

15 de jan. de 2010

RETRATOS BY KAMINSKY

www.retratosbykaminsky.blogspot.com

Faço pinturas de retratos personalizados, sob encomenda.
Abaixo, fotos de alguns trabalhos.
Interessados, contatem comigo através do blog ou e-mail.
Um FELIZ E ABENÇOADO 2010 a todos!!!


SONO CÓSMICO

há dias em que não sabemos
a que tribo pertencemos
a que rio
a que pântano
a que reino em flor
em barro
quinta-essência
carne e lágrima
matéria enigmática
poeira galáctica
que expele o futuro dos homens

mas não há nada
que os deuses confabulem
que valha perder o barulho
da chuva
e aí, tanto faz,
inseto, planta
a humanidade possível
a expressão do inexprimível
que oscila entre a solidão
e a beleza destinada à
construção das pétalas
ou das palavras

eu, mulher mandrágora,
bebo o orvalho da noite
e estico membros
seivas e raízes
enfeitiçada pela vida
alcanço o húmus
das árvores dos quintais
e, sem incomodar ninguém,
volto à terra
adormecendo em meu sono
de auroras boreais

(CÉLIA MUSILLI)