Exercícios poéticos, apaixonados e patéticos: pequenos mergulhos e vôos, para compartilhar...

23 de jan. de 2006

paradoxo


Estranha (e insólita, assimétrica, inquietante) combinação entre ex-centricidade e con-centração... Neste ponto de confusão, estou eu... Trilha de incertezas, a caminho do desconhecido...

20 de jan. de 2006

Cintilações






O instante que cintila
e tão rápido
se esvai
Está, no entanto, preso
no fundo de si mesmo
numa gaveta escura...



(Formigas frenéticas ultrapassam a fossa
idéias-larvais vazam pela fenda
vermes viscosos criam asas...)

No instante que cintila
e tão rápido
se esvai
Esconde-se a relíquia
no fundo de nós mesmos
num ponto pré e pós-iluminado.

(Vespas e vagalumes atravessam a fresta
idéias-crisálidas arranham suas cascas
casulos e crostas explodem-se em cacos
e delirantes deslizam, dançam e emergem...)

No instante que cintila
e tão rápido
se esvai
Abrem-se as gavetas
cintilam borboletas
transpondo as rachaduras
nas profundezas escuras
dos doidos abismos do eu...

19 de jan. de 2006

Bizarras Borboletas do Abismo





Borbo-letras...










A borboleta sobe e surge
através da abertura
vinda das profundidades
voeja leve e volátil
com estampa de tapeçaria
escapando do obscuro...


Verme com asas de vidro
cujos olhos (a cor:alizarim?)
vagam por abismos azuis
buscando amores obtusos...







Voyeur






A lagartixa corre para trás do quadro
(o qual olho e me olha, vivendo em meus olhos ) .
Espio a lagartixa que o quadro esconde
(tela que revela e fixa algo em meu olhar ).

A vida espia e é fugidia
Tal qual a lagartixa
Ou mais escorregadia ?

Ela me vê quando não a vejo
Eu a vejo, às vezes, a me observar...
Olhando-a capturo a vida em meu globo ocular.

O quadro opaco, silencioso, espera
A luz do mundo destilando, o olhar atrai
Esconde a lagartixa esguia, tímida e fria
Que o olho capturou no vazio, onde tudo se esvai.. .

Espiando a espiã, aparição da vida
Pelo próprio olho-ovo, na ocular redoma
Olho através da moldura (espelho-antro-abertura)
Capturo-me: fisgando, sou fisgada...


Ana Luisa Kaminski, 2002
Revisado em novembro de 2005
Re-visto em 2006

Violinos Verdes e Violetas

Velhos Violinos Verdes e Violetas
Ou
Antigas Ambivalências Abissais
(Para Valeska Freitas)


...Velhos violinos verdes e violetas
despencam prá fora das minhas gavetas
-das imaginárias ou as da memória-
e deixam vazar vagas melodias
vívidos fragmentos de músicas e histórias...

Alados pianos murilianos
deslizam pelas portas e fantásticas frestas
entre os mundos relativos, reais ou absolutos
e deixam pingar mel, anis,claves e teclas
pulsando sem cessar nas velhas veias azuis...

Flautas mágicas de Mozart e tambores de Clarice
ultrapassam as fronteiras frágeis finas flutuantes
entre vívido e visível, vaporoso e volátil
e vibram resgatando restos ritmos e raízes
ambivalentes ressonâncias de asas e risos alizarim...

Vazam, voam e se volatizam
pingam, pulsam e pululam loucos
produzindo positivas proliferações
entre balanços brancos e saltos nos abismos
híbridos da arte, do amor, da poesia...

Viajam, vibram, vazam
pelas frestas pelas portas pelas fendas
espirais e parafusos da memória
pianos empoeirados e velhos violinos
ressoando, retumbando e transpondo
num desejo inesgotável do além...

Oníricos Olhares












De dentro de um sonho,
espia a borboleta
da concha-casulo
e prepara suas asas, seus olhos e ocelos
para o vôo primeiro...

Entre cores e contrastes,
onde está a fresta?...

Olha a borboleta
De olhos-ovos oníricos
(sem saber da esquize
ou da pulsão escópica)...

Salta no abismo
arranha o espaço
abre uma fenda
no imaginário

E desperta.


Ananônimazul.