Exercícios poéticos, apaixonados e patéticos: pequenos mergulhos e vôos, para compartilhar...

30 de nov. de 2006

ponte


O presente é uma ponte, um ponto, uma porta...













Imagem de Roberto Volta

29 de nov. de 2006

rasuras

A cada dia que passa
mergulho mais fundo
e transborda a taça
redescubro o mundo
risco na vidraça
esboços de linhas
que o tempo enlaça
ouço e não lamento
as pausas e acordes
as notas do acordo
as cores da noite
os rumos que a vida
conduz e abraça
luz, nau, poesia
vital e inventada
que nunca esvazia...



Rasuro ou remendo
pintando uma lua
compondo um tango
embarco na tela...

Imagem de Roberto Volta: " Tango Onírico"



26 de nov. de 2006

pinceladas

Pinceladas
no tempo
que escorre
tingindo
memórias
de luzes
e sombras,
guardando
no peito
matizes e
histórias:
o que foi
ou virá,
pintando
o presente
inventado
com traços
do que há...


Imagem de Roberto Volta



24 de nov. de 2006

alquimia

A lágrima

derrete

um resto

de dor

no coração

de leoa

e lava

a alma

que ama

a vida

e pinta

o mundo...

23 de nov. de 2006

alizarim


Vento e calor na pele e no pensamento, vontades voláteis, volições e vertigens, viagens na contramão, mudanças de rota nos rumos do verão!
É o que verte de mim: carmim=coração=alizarim, nestes dias em que o corpo espera pelo abraço, a boca anseia pelo beijo, a alma aguarda o encontro...
Rubro-escarlate querer, substitui a tristeza gris!...

Flutuam pelo ar cheiros de rosas e maçãs maduras...

17 de nov. de 2006

retratos


Tarde tépida, ventos de chuva, lembranças doces de fins de semana que começavam na sexta-feira...
Aula dada, alunos atendidos e, agora, algumas horas soltas, para fazer o que der na telha... Planos: PINTAR: retratos, retratos, retratos que tão somente esboçam a profundidade dos seres retratados, que evocam nuances dos conteúdos guardados, que às vezes até apontam para algo além dos rostos contornados... Inevitavelmente, meus pensamentos voam em tua direção, e quase me arrependo dos impulsos escritos...por um instante, me convenço de que talvez fosse melhor calar , quando as palavras falham!... Embora tente ultrapassar os muros com as asas dos poemas, dos morfemas, dos múltiplos sentidos das letras, em certos momentos de excitação-paixão da alma e da pele, somente a pintura parece oferecer a chance de uma libertação mais plena, de um reencontro da paz e da delicadeza necessárias para elaborar e conduzir os afetos por caminhos novos e antigos, tortuosos ou tranqüilos...Lembro de ti com leveza e emoções cintilantes... gratidão, admiração e tesão, pelo que foi, é, ou adivinhando o devir. Sorrio de tua sede de viagens e aventura. Me reconheço, às vezes, na ânsia da procura. Descubro as diferenças entre os mapas e diagramas. Me embriago na confusão das cores que se misturam, encontros de âncoras, portos e naus em instantes de amizade pura...Constato os contrastes, retoco e re-desenho os detalhes destas belas memórias, diluio em aquarela a mancha mais escura, acentuando a luz no ponto da candura... Penso nas possibilidades que para nós se desdobram: janelas, híbridas aberturas. Imagino o verão, o calor, a maravilha eterna e fugaz de cada iluminura... Desejo te abraçar no ar, só para te mostrar a força da ternura.

15 de nov. de 2006

bordados


Entre-linhas-de-cor-e-fusos-penas-pincéis, fios de nuvens- matizes e pontos-pincelados, novelos de sonhos, rocas de invenções e bilros tonalizados, agulhas e fagulhas de idéias, segredos costurados, vou fiando meus desejos, tecendo meus dias, pintando e bordando o mundo...

12 de nov. de 2006

remendos

A alma tecelã-fiandeira, ins-pirada, tece rendas e sonhos, novelos de nuvens, desejos, segredos, memórias, à procura de si, vertendo seu mel... Costura sensações (e corações?), recicla idéias e remenda emoções à custa das convicções-convulsões interiores que a fazem buscar a verdade invisível, vislumbrada através da trama (de suspiros? vontades? intrigas? mistérios?) . A alma atribulada, vagabunda e venturosa tece tais delicadezas, urdiduras-intrincadas, feito frágil guerreira-artesã, mendiga em suas riquezas, rica em meias-verdades... Ela se esconde e se enovela, tentando se encontrar e, ao esquivar-se, mais ainda se re-vela, manchada de tintas, de sangue e sal, lambuzada de lágrimas, doçuras e amarguras mescladas em seu íntimo tumultuado, matizado de amores... Sabe-se amada e amante, mas teme a entrega plena e espera, vacilante, calculando o alcance e a força dos fios (de ferro? de ouro? de aço?) antes de se lançar ao abismo, aos labirintos de sua alma-viajante. Ela é seu próprio Tesouro, Minotauro e Ariadne, e se salva ou se devora, ao sabor dos desejos delirantes-in-constantes que sempre se revelam vaporosos e voláteis, na beleza transitória produtora de prazeres e cintilações esparsas eternamente almejados por sua natureza errante... A lynda fiandeira-fragmentada gira em torno de si mesma, buscando o centro da mandala, onde está a chave-mestra que a ajudará a decifrar o próprio enigma ... Sem saber, a alma-tecelã está salva, pelo fio condutor do amor que a livra da perdição, pela ternura que anula o fel de um momento infeliz, pelo sincero desejo de Vida que em breve a fará encontrar alimento luminoso-etéreo para a insaciável sede de sentir, saber e ser... Alma fiandeira, tecida de poemas, estrelas e epifanias, êxtases e agonias, fiada por linhas lírikas e redes infinitas, neste instante-já, tenta se libertar da própria teia!... Presa à armad-ilha, cujos raios-fios-de-seda-e-luz a seguram, (e cegam? asseguram?) ambivalente-mente, a "proteção-prisão" (arma-dura) impede a libertação (de si), talvez apenas pelo necessário entre-meado-tempo, também tecido, bordado, des-fiado...Enquanto espera, recolhe flores, cores e fios que farão parte das próximas montagens, remendos, costuras, viagens ...sem fim nem começo, até descobrir que é tão eterna, fluida e fugaz quanto as bordas do mundo, e constatar que deixa (atrás e adiante) de si, na tessitura-escritura, rasuras e relevos, rastros e restos de dom e veneno, sinais indeléveis de luz e sombra pelos caminhos e tapeçarias, diariamente redesenhados...

11 de nov. de 2006

oficina de nuvens e sonhos


No calor do casulo-casa-cor-atelier
re-descubro o valor de uma lynda exceção
no intervalo do entre, na fresta do mundo
mergulhando no nada, encontro o profundo
re-invento o tudo, rabiscando o etéreo
entre telas e tintas, mil e uma rasuras
gestos e pensamentos viram vôos, viagens
e o pincel deslizante delira, à procura
do segredo da vida, da alma, do sangue
vivenciando vertigens sem perder o comando
das asas do vento, do rumo do sonho
encontrando teu rosto no invisível pintado
no lirismo secreto da oficina de nuvens
na expressão delicada, mais doce e tão densa
de uma vida tecida, de um beijo bordado
no instante feliz de uma inspiração!

9 de nov. de 2006

retalhos












Roupas balançam nos varais, coloridas,
Lembrando tempos de prazer e esperança
Flores rosadas rodopiam no ar, atrevidas
Enquanto o vento coreografa suas danças
Restos de aromas e doçuras perdidos
Bailam na luz refazendo meus sonhos
Doses de cor, desfiados remendos
Tecem retalhos de momentos tristonhos
Recombinando seus tecidos floridos
Fotos e textos asseguram que existe
Algo além do visível e traduzem, esparsos,
Movimentos de amor, gôzos em mil compassos
Entre aqui e acolá, num mágico instante-espaço
Entrevejo suturas no vitral- contraponto
Costura alizarim com fios de ouro entrançados
No fugaz interstício entre pedaços de mundos
Que se con-fundem-re-fazem num patchwork encantado
Escrevendo seus quadros, pintando poemas
Glorificando a vida, reinventando o bordado...

7 de nov. de 2006

Encantamento










Um dia fui tua fada, princesa encantada, rainha-borboleta
Hoje sou amiga ou nada? talvez parte do caminho...
Mas, de preciosidade, virei pedra ou pergaminho!?!...
Qual terá sido a causa da veloz transformação?
O que terá gerado tanta dor e confusão?
Foi alguma palavra mal-dita, foi ardil ou armadilha?
Foi varinha de condão, foi poção de caldeirão?
Foi o amor pelos mistérios, ou boa-fé surrealista?
Foi brincadeira divina, destino torto de artista?
Foi a nuvem passageira, foi feitiço ou disfarce?
Foi o xadrez da vida, contra-ponto-ama-lukado
Que separou ou derrubou as peças
E deslindou os fios bordados?

Sinto saudades mas aprendo
Que nada do que for será
Do jeito que já foi um dia
Pois o que resta é retalho,
memória, rasura ou remendo...
Contudo, se choro dormindo,
Sorrio à luz solar da manhã
Diante do efêmero-e-terno
Bem-querer lylás no divã
Analuisado em telas etéreas
Despedaçado em sonhos desfeitos
Redesenhado em transparências de asas
De borboleta atrevida-insistente
Que ainda acredita, leve-livre-valente,
Em promessas de amor(im)perfeito
E envia, incansável, seus beijos azuis
chovendo sobre o jardim, já molhado...