Exercícios poéticos, apaixonados e patéticos: pequenos mergulhos e vôos, para compartilhar...

6 de nov. de 2013

Tessitura

EPIFANIA ou TESSITURA

Cada um colhe o que semeia... Aquilo que pratica, pensa e deseja é o que atrai... Assim se constrói a própria trajetória, cria-se um bordado, uma história, uma tessitura. Cada pessoa reflete ao redor de si aquilo que existe em seu mundo interior... Cada ser tece o seu destino com fios de doçura ou de amargura, com dureza ou delicadeza, com doses de alegria e angústia, medo e coragem, sanidade ou loucura, durante o fiar, o con-fiar, o tecer, o colorir a urdidura. 

Amar cura!!! Cada um cultiva seus jardins e faz sua semeadura.

As pessoas amorosas e gratas despertam admiração. As pessoas frias e ingratas despertam dó e compaixão. Sem uma boa dose de tolerância, flexibilidade e sublimação não existiriam ciência, arte e cultura.  Se os erros e acertos de cada um aparecessem à clara luz do dia, muitos ficariam surpresos!... com a própria intransigência, fulgurância ou com sua parte mais escura!

A firmeza com suavidade, o perdão, a amorosidade são os melhores caminhos para o aprimoramento do SER, o aprendizado, a criação, a arte do sentir e do saber. Caminhos complexos, ricos e curvilíneos para o crescimento, para a luz e o prazer de viver, para escapar da doença e da amargura. AMAR CURA!!!


(Ana Luisa Kaminski)





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27 de out. de 2013

Pequenas reflexões kaminskianas sobre o amor



Tempos atrás, alguém que amo me disse que é durante situações difíceis, penosas ou tensas que podemos descobrir quem realmente nos ama, a partir de suas atitudes e reações... e então, pensei bastante sobre a verdade destas simples palavras. De fato, é quando passamos por apuros, ou quando falhamos e estamos frágeis, que descobrimos se alguém nos ama, realmente!... Nestes momentos, algumas pessoas podem ficar indiferentes ou frias, podem ser cruéis ou zombeteiras, podem até nos fazer cair mais um pouco ou pisar sobre nós, outras talvez nos lancem um olhar cínico ou nos desprezem... Entretanto, as verdadeiramente amorosas, estendem a mão, nos ajudam a levantar, tratam de nossas feridas, nos reanimam, procuram mostrar que existem modos de aproveitar o tropeço e até a queda como aprendizado, como chance de aprimorar o ser... Enquanto alguns se mostram insensíveis ao nosso sofrimento e angústia, e estão por perto apenas nas horas fáceis, leves e alegres, outros, mais leais, partilham dores e prazeres, de modo desprendido, mais maduro e generoso... 


Quem ama, de fato, não nos desdenha na hora em que mostramos as facetas menos belas ou mais imperfeitas do ego, mas continua vendo e valorizando o que temos de melhor e precioso – e nos lembra disso, mesmo que nosso narcísico eu esteja partido em mil pedaços e a tola vaidade humana, estilhaçada!... O ser amoroso ajuda a catar os cacos e rejuntá-los, participa da reinvenção do caminho, do destino e da alegria.


Outra pessoa querida lembrou-me destas palavras sensíveis e sábias de Clarice Lispector: “Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.” Seja qual for o sentido ou significado que damos à nossa viagem vital, certamente a escolha entre amar ou não amar faz muita diferença! Amar os outros, amar nosso trabalho, amar a natureza, amar a própria vida... pode ser o segredo por tantos esquecido, num tempo em que o amor-próprio e o culto ao individualismo parecem exacerbados, ainda que acabem conduzindo, no mais das vezes, à tristeza, à amargura, à decepção... O amor aos outros, por sua vez, se dispensado na mesma medida em que procuramos agradar a nós mesmos, acaba resultando em satisfação íntima, num júbilo invisível mas reluzente, que faz brilhar os olhos, adoça e enternece a voz, enobrece os gestos, faz fulgurar as almas e resgata esperanças, valores e singularidades. Viver com amor e coragem, exercitar a delicadeza no cotidiano, cultivar laços - esta é a maior arte!

(Ana Luisa Kaminski
. Texto escrito e publicado em 27 de outubro de 2010. Republico hoje, com pequenas alterações.)

18 de out. de 2013

Que a arte nos aponte uma resposta...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção..
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.

(Oswaldo Montenegro)


Imagem: "Ciclos Azuis e Lilases". Pintura de Ana Luisa Kaminski

15 de out. de 2013

Olhos de ver...

"Para quem não anseia senão ver, há luz bastante; mas para quem tem oposta disposição, sempre há bastante escuridão".
(Blaise Pascal)

13 de out. de 2013

Dar à luz...

"Tudo está em deixar amadurecer e então dar à luz. Deixar cada impressão, cada semente de um sentimento germinar por completo dentro de si, na escuridão do indizível e do inconsciente, em um ponto inalcançável para o próprio entendimento e esperar com profunda humildade e paciência a hora do nascimento de uma nova clareza: só isso se chama viver artisticamente, tanto na compreensão quanto na criação."

(Rainer Maria Rilke)




*Imagem: "Ninfa Azul". Pintura de Ana Luisa Kaminski
Edição digital de Alberto Newton Delacoste Fernandez

10 de out. de 2013

Cuidar das emoções com carinho...



"Pelo fato da vida ser, relativamente, tão curta e não comportar “reprises”, para emendarmos nossos erros, somos forçados a agir, na maior parte das vezes, por impulsos, em especial nos atos que tendem a determinar nosso futuro. Somos como atores convocados a representar uma tragédia (ou comédia), sem ter feito um único ensaio, apenas com uma ligeira e apressada leitura do script. Nunca saberemos, de fato, se a intuição que nos determinou seguir certo sentimento foi correta ou não. Não há tempo para essa verificação. Por isso, precisamos cuidar das nossas emoções com carinho muito especial."
(Milan Kundera)






("Jarro Azul". Pintura de Ana Luisa Kaminski)

18 de set. de 2013

Arte, saber e liberdade

"A arte é um meio de libertação, de sabedoria, de contemplação e de conhecimento. A arte não é separada do viver. O fim da atividade artística não é a obra, mas a liberdade, e a liberdade não é o saber, mas o que dele emana"
(Marcel Duchamp)


14 de set. de 2013

Celebrar...

“Quando reconhecemos a fonte comum da nossa humanidade, as origens comuns dos nossos sonhos e anseios, das nossas esperanças e dos nossos medos, tornamo-nos capazes de perceber que estamos todos juntos no grande milagre da existência. Quando conseguimos somar nossa enorme riqueza interior para criar um tesouro de amor e sabedoria que esteja ao alcance de todos, ficamos todos interligados no mecanismo único da criação eterna.

A vida lhe foi dada para que você crie, seja feliz e celebre. Quando você chora, quando está infeliz, fica sozinho. Quando está celebrando, a existência participa com você.

Somente na celebração encontramos o que é fundamental, o que é eterno. Somente na celebração ultrapassamos o círculo do nascimento e da morte”. (Osho)




*Fotografia: Ana Luisa Kaminski fotografada por Lara Lunna, em Sarlat-la-Canéda, França/Edição artística de Alberto Newton Delacoste Fernandez

5 de set. de 2013

Amar é sempre ir além...

Ser capaz de amar é ter olhos abertos para continuar vendo o melhor do outro, suas qualidades, sua beleza, sua luz e seu valor, mesmo após ter visto e conhecido suas sombras, suas fraquezas, sua escuridão. Ser capaz de amar é saber perdoar, é ter a grandeza de se colocar no lugar do outro e reconhecer, também, quantas vezes fomos acolhidos, confortados, compreendidos, perdoados e amados. Saber amar é exercitar o olhar amoroso sobre o outro, é não perder sua luz de vista, é permitir que as névoas dos medos e mágoas se dissipem... "é ultrapassarmo-nos", como escreveu O. Wilde. Amar é ter coragem, às vezes, de se ver espelhado no outro. Seja escolhendo ficar ou indo embora, de perto ou de longe, amar é sempre ir além, focalizando a luminosidade do ser e fazendo a travessia de nossa humanidade com um olhar claro, largo e generoso para com o melhor e o pior do outro e para consigo mesmo.

(Ana Luisa Kaminski)

29 de ago. de 2013

Dádivas...

“O erótico vivido como profano e a arte vivida como sagrada se fundem numa experiência única. Trata-se de misturar arte com vida.”
(Lygia Clark)



IMAGEM: "Caracóis Oníricos". Pintura de Ana Luisa Kaminski



Algumas pessoas desperdiçam o que a Vida lhes oferta - por excesso de orgulho, medo ou arrogância. Outras, aproveitam os presentes com prazer e alegria, desfrutam e saboreiam com gratidão e graça as oportunidades e dádivas que a Vida apresenta, a cada novo dia, a cada novo tempo, a cada passo adiante!!!

(Ana Luisa Kaminski
)




IMAGEM: "Conchas Azuis". Pintura de Ana Luisa Kaminski

23 de ago. de 2013

Dia do Artista!

"Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagres todos os dias."

(Clarice Lispector)




Fotografia: pintora Ana Luisa Kaminski

21 de ago. de 2013

PRESENTES...

GRACIAS A LA VIDA!!!

A Vida tem sido generosa comigo... e sempre me ofereceu belos e preciosos PRESENTES.
O maior de todos, sem dúvida, é a própria VIDA, o fato de estar viva, respirar, pulsar, amar, sentir e pensar!!!
Entretanto, outros "presentes" de valor imensurável são ter saúde, uma família linda e amorosa, amigas, amigos e amores que me cuidam, estimam e acolhem, como os acolho, estimo e cuido... trabalhar em algo que adoro...

Para celebrar, ainda, meu aniver, posto aqui um vídeo feito por um amigo querido, que o ofertou como presente de aniversário. Que seja um brinde ao Amor Maior que conecta todas as criaturas criativas que amam a Vida!!!

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http://youtu.be/p1NpDPYRZJA

19 de ago. de 2013

AMOR e GRATIDÃO

Hoje é dia de homenagear meu pai, Bernardo Eckert Kaminski, pelo seu aniversário de nascimento.

A ele sou muitíssimo grata por todos os exemplos de amor, integridade e generosidade ofertados ao longo de sua vida: desde que eu era bem pequenina, até hoje, vejo na vida amorosa, digna e luminosa do meu pai, um grande exemplo de força, amor e sabedoria.

Meu pai nasceu no dia 19 de agosto de 1938. Na foto abaixo, ele aparece, ainda bebê, no colo de sua mãe, minha avó Bertha Elisa. A família estava reunida por causa do falecimento de meu bisavô Wilhelm Eckert, marido da bisavó Elfrida, que na foto aparece sentada, de preto.



Nesta outra fotografia, meu pai aparece com seu avô, meu bisavô paterno, Wilhelmen Ludwig Kaminski.

Abaixo, meu avô paterno, Guilherme Augusto Kaminski, que hoje também estaria de aniversário: ele e meu pai nasceram no dia 19 de agosto! Meu avô nasceu em 19 de agosto de 1914.

Na juventude, meu pai Bernardo Eckert Kaminski ficou famoso como o bonitão que viajava pelas estradas do sul com seu Candango.

Meu pai, muito belo, com seus 27 anos. Não foi à toa que minha mãe ficou apaixonada!!!

A ele, nesta data e sempre, meu amor e muita gratidão!!!

"Ser profundamente amado por alguém nos dá força.
Amar alguém profundamente nos dá coragem!"
(Lao-Tsé)


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7 de ago. de 2013

Leveza...


Ana Luisa Kaminski em Veneza, Itália
Fotografia de Lara Lunna/ Edição digital de Alberto Newton Delacoste Fernandez

"Um dia de cada vez, que é pra não perder as boas surpresas da vida."

(Clarice Lispector)

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15 de jul. de 2013

Entre o sono e o sonho...


Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre -
Esse rio sem fim.

Fernando Pessoa, 11-9-1933





"Violoncelista Onírica". Pintura de Ana Luisa Kaminski

4 de jun. de 2013

Memória mágica



Existem lembranças que gostaríamos de apagar ou esquecer, e outras, tão lindas, fulgurantes e preciosas como jóias, que preferimos manter vivas para todo o sempre, preservar. Cada qual escolhe se prefere guardar o mel ou o fel do já vivido, preservar o vinho ou a amargura. Eu prefiro cuidar com carinho de cada lembrança linda e feliz, de cada memória mágica, em sua beleza iridescente, pois desejo tê-las comigo, ainda bem vívidas, no inverno da vida! Cada tempo, cada dia, cada fração ou parcela da existência traz sua própria dose de luz, prazer e aprendizado, e assim seguimos, vamos crescendo, vivendo e viajando. Entre pesos e levezas, lágrimas e asas, alegrias e tristezas, selecionamos o que queremos levar... mas ficam muitas marcas, desenhos, cicatrizes, memórias indeléveis das dores e prazeres vivenciados, os quais não podemos renegar. Dentre estes, precisaremos escolher quais receberão mais valor e atenção no fiar de nossos pensamentos, na tessitura de nossas emoções, na urdidura de nossa própria história.

(Ana Luisa Kaminski)

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31 de mai. de 2013

Céu

"Trate de conservar um pedaço de céu acima de sua vida."

(Marcel Proust)

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14 de mai. de 2013

Navegar...

Mais ou menos assim é a nossa vida: um mosaico de cenários, sonhos e sensações, uma trama de memórias, medos, desejos e emoções, um diagrama de vitórias, derrotas, esperanças e ilusões...

(Ana Luisa Kaminski)

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30 de abr. de 2013

"Cada um tem a idade do seu coração."

(Alfred d´Houdetot)

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*Pintura de Tadeo Zavaleta

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25 de abr. de 2013

Apaixonamento...

"O estar apaixonado consiste num fluir da libido do ego em direção ao objeto. Tem o poder de remover as repressões e de reinstalar as perversões." (Freud, Sobre o Narcisismo).

Apenas quando "sai de si", do isolamento narcísico, quando se apaixona, deseja e ama, o sujeito consegue viver de verdade, superando seus medos, recalques e neuroses, sua "normalidade" apática e asséptica, hoje cada vez mais comum no mundo contemporâneo.

Apaixonamento (apaixonar-se, enamorar-se) faz o sujeito sair da caverna, da frieza, da morbidez, da solidão, da indiferença - sair da "normalidade" mortificante comum na atualidade, num mundo de mulheres e homens cada vez mais narcísicos e menos amorosos.

Amar e ser feliz é "fazer diferença", é permitir-se ter prazer, pathos e poesia!!!

(Ana Luisa Kaminski)


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(Desconheço o nome do autor da pintura)

21 de abr. de 2013

Amor, flexibilidade e perdão

Apenas quem é capaz de atentar para os próprios erros, antes de julgar os alheios, também está apto a amar com toda a potência. O sujeito amoroso e maduro consegue perdoar as falhas dos outros e aceitar suas imperfeições, escapando à rigidez egóica daqueles que, inflexíveis, criticam os tropeços de outrem, sem perceber os próprios defeitos e deslizes. Se não existissem sujeitos capazes de perdoar e amar com generosidade, ninguém mais acreditaria, ninguém jamais confiaria ou amaria, já que todos os seres humanos erram e tropeçam muitas vezes durante a trajetória vital.

Quem consegue perdoar também é capaz de amar com grandeza, aceitando a imperfeição do outro e priorizando suas qualidades e virtudes, o que só é possível a partir do reconhecimento da própria incompletude, ou seja, ao desfazer-se de um ego rígido e idealizado que impede o sujeito de ver ou ir mais além. Quem é incapaz de perdoar quase sempre é aquele que, com a visão embotada pelo excessivo orgulho, se esquece de quantas vezes foi perdoado, valorizado e amado, apesar de seus próprios fracassos e erros...

Portanto, apenas o sujeito capaz de perdoar e aceitar a própria incompletude e também a do outro está capacitado para amar com maturidade, apto a cultivar amores e vínculos duradouros, sem o empecilho do excessivo narcisismo ou da inflexibilidade do ego, às vezes erroneamente confundidos com força.

(Ana Luisa Kaminski)

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*Fotografia: Arnold Genthe, 1915

6 de abr. de 2013



A POTÊNCIA DAS PALAVRAS

Palavras têm força, poder e magia: podem acariciar ou ferir, apaziguar ou ofender, machucar ou curar, restaurar corações, asas e almas, ou empurrar o outro para o precipício.

As palavras podem ser usadas como armas, para o bem ou para o mal: se são amáveis e empregadas com cuidado, suavidade e sabedoria, podem encorajar, reanimar, fazer sorrir, reluzir, iluminar! Porém, quando são rudes ou ferinas, usadas com descuido, raiva e aspereza, podem magoar, ultrajar, causar lágrimas, destruição e dor.

Algumas pessoas usam as palavras de modo infantil e inconseqüente, sem refletir sobre o que as mesmas provocam... mas também existem sujeitos que, conhecendo sua potência, usam-nas de modo consciente, criativo e sensível, sabendo que podem provocar efeitos de bem ou mal-estar, semear alegria, luz, magia... ou desprazer, tristeza e sofrimento.

De acordo com seu uso, as palavras podem inspirar, despertar ou destruir um grande amor, uma pessoa, um sonho, uma vida, uma história. Podem produzir encanto e poesia - ou desencanto e melancolia. Podem traduzir e transmitir o mel ou o fel dos seres que as emitem, podem revelar seus mais íntimos desejos e segredos, refletir seus medos, indicar os anseios e esperanças de cada sujeito.

Palavras são sementes, são esboços, são registros que produzem e preservam a ternura, a beleza e a doçura - ou destilam raiva, veneno e amargura. Palavras são presentes, bênção ou maldição. Em algumas pessoas elas surgem com tonalidades mais constantes, coerentes e harmoniosas, criando algo como uma melodia, enquanto em outras podem se manifestar de maneira mais instável, apresentando colorações escorregadias, vacilantes, deslizando entre sentimentos de amor e ódio que, por vezes, causam danos nesta freqüente oscilação ou desafinação.

A escolha do modo de usar esta grande e notável potência - seja com generosidade, delicadeza, amor e elegância, seja com agressividade, egoísmo ou arrogância - depende das singularidades, fantasias e também dos fantasmas e da maturidade de cada sujeito, sempre já indicados no teor, nas nuances e sutilezas do próprio discurso.


(Ana Luisa Kaminski)

3 de abr. de 2013




Cores, traços, rastros...

Se queres conhecer o caráter de alguém, atenta para o seu discurso e o modo como usa as palavras: isto diz muito sobre o sujeito. Sobre o que e como fala? Quais são os temas que aborda e como discorre sobre os mesmos? Quais seus assuntos prediletos? Como se refere às pessoas com quem convive - amigos, familiares, colegas ou amores? ... Como já observou Sigmund Freud, o que um sujeito fala sobre outro revela muito mais sobre si mesmo do que sobre aquele do qual fala.

Outro modo de descobrir as nuances e cores do caráter de alguém é examinar, além da maneira como usa as palavras, seu modo de ver o mundo, as pessoas e a vida. É uma extensão do primeiro ítem: o sujeito vê a vida, as pessoas e o mundo com um olhar amoroso, com esperança e alegria, com gratidão, com leveza, beleza, poesia e graça? Ou com um olhar cético, malévolo e amargurado?... Muito projeta de si, de seus medos, sonhos, sentimentos, neste modo de "olhar".

E, falando em olhar, é muito importante observar o que dizem os seus olhos: que sentimentos transmitem? Ternura, alegria, coragem, entusiasmo, serenidade... ou amargura, tristeza, angústia, malícia, raiva, frustração?... Os olhos dizem muito sobre a alma dos seres humanos, traduzem coisas que às vezes as palavras não dizem, o olhar pode dizer o contrário do que diz o discurso, ou confirmá-lo.

Além disso, pode-se prestar atenção ao modo como o sujeito trata as pessoas: é gentil e generoso com os outros, mesmo quando não tem nada a ganhar com isso, apenas para exercitar a amabilidade? É cordial, afetuoso e paciente, procurando transmitir algo bom às pessoas com as quais convive? Ou apenas sabe ser gentil quando crê que obterá vantagens, mas impaciente e, às vezes, até rude, quando acredita que está sendo perturbado ou desrespeitado? Consegue manter a calma e a delicadeza mesmo em momentos de tensão, ou logo que se sente inseguro revela exagerada rispidez?...

Outra pista para se conhecer o caráter de alguém é analisar os traços que esta pessoa deixa ou está deixando, ao longo do caminho, que legado ou que marcas vão ficando, a partir de sua trajetória vital. Se tem amigos, quem e como são estes amigos que elege? São amizades duradouras ou sempre muito voláteis? Se tem filhos, qual é o tom predominante no caráter de seus herdeiros: são benignos, amorosos, equilibrados - ou egoístas, imaturos, perniciosos?... O que o sujeito transmite ao redor, o que semeia, o que deseja, o que busca, como desfruta seu viver? ...

E, quando comete erros, este sujeito admite, reconhece sua falha ou fraqueza, procura se corrigir e melhorar - ou é do tipo que dificilmente admite um erro, que acredita que é infalível, ou não consegue admitir que falhou, por excesso de orgulho? ... É uma pessoa que destaca o melhor, ou o pior, quando se refere às outras? É alguém que sabe valorizar as qualidades alheias, mais do que criticar suas imperfeições? Consegue perdoar? Ou é do tipo que maximiza as falhas alheias e minimiza o que os outros tem de melhor?...

Observando com cuidado todos estes aspectos e sutilezas de uma persona, pode-se traçar um mapa ou diagrama de seu caráter, com suas nuances, cores, matizes, seus traços e tonalidades predominantes, sejam luminosos ou sombrios, positivos ou negativos, ainda que sempre existam algumas manchas e mesclas. Afinal, ninguém é perfeito, amável e justo, correto ou irretocável, o tempo todo! Mas é possível ter uma ideia, algo como um mapeamento, um desenho, a cores ou em branco-e-preto, do caráter de uma pessoa, daquilo que diz o íntimo de sua alma, daquilo que canta o seu coração, daquilo que modela o seu ser visível e invisível. É possível até imaginar como será o futuro de cada um , que frutos colherá, que fim terá, por mais que o amanhã seja desconhecido e imprevisível.

As cores, os traços, os rastros que cada um terá deixado ao final, serão a confirmação do que o sujeito semeou, cultivou, desenhou e pintou sobre a Terra, enquanto teve seu tempo para respirar, pulsar, amar, irradiar energias. Alguns, apesar da melancolia, deixam belos legados poéticos, uma obra valiosa, seja qual for a área para a qual tenham se dedicado, desde que tenham sido benignos, generosos, que tenham conseguido ir além de si mesmos. Outros, apesar de um aparente brilho, deixam pouco de valor, do ponto de vista mais humano, emocional, espiritual. E há aqueles que passam pelo planeta quase sem deixar rastro, embora cada pequena vida tenha, sem dúvida, seu valor. Aliás, às vezes, existe muita potência naquilo que parece insignificante, e pouca naquilo que parece grande e forte.

Mas, finalmente, se estás em dúvida sobre o caráter de alguém, atenta para sua fala, para seu olhar, para seus gestos e para os traços que vai deixando, para o que vai semeando, para os frutos que vão ficando pelo caminho... E saberás o que precisas saber.

Ana Luisa Kaminski



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10 de mar. de 2013

"O que existe é a possibilidade de encontro, de troca de energia, alegria e afeição, de aprendizado mútuo, de crescimento e enriquecimento (a despeito de quedas, enganos ou tropeços), a possibilidade de amadurecer e ter prazer no entrelaçar de almas e mundos (apesar das falhas), a chance de fulgurar nos instantes de fugidia plenitude e inefável afinação. Existe a possibilidade de preservar o encantamento (apesar dos pesares, das dores e da incompletude do eu e do outro). A opção de continuar acreditando, vibrando e pulsando, com coragem e graça, com intensidade e delicadeza, no compasso musical, mágico e amoroso do coração."

(Ana Luisa Kaminski)


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24 de fev. de 2013

Caminhos do coração






Cada coração tem seu tempo, sua bússola, seu mapa, sua chave, seus mistérios, seus caminhos, cicatrizes e desejos, sua coleção de sentimentos, seus sonhos e segredos bem guardados.

Apesar de o coração ser apenas um músculo, ele é diretamente afetado por nossas emoções, como se sabe, o que é comprovado cientificamente, ou revelado por toda a história humana, da arte e da poesia, pelas conexões existentes entre o coração, o amor, a vida e a morte...

Quando estamos sofrendo e angustiados, o coração fica apertado, parece comprimido e pesado no peito... Quando estamos felizes e apaixonados, e nos sentindo amados, ele bate mais forte e compassado, por vezes parece que dança, canta, flutua ou que criará asas e sairemos voando, talvez levitando e desafiando as leis da gravidade!...

Sabe-se que pessoas solitárias, depressivas e mal-humoradas sofrem mais de problemas cardíacos e estão mais sujeitas a falecer de infarto.

Para os místicos e médiuns, é aceito sem questionar que o chakra cardíaco é o centro do sistema dos chakras. Nele se unem os três centros inferiores, físicos e emocionais, com os três centros superiores, mentais e espirituais e é também o ponto de encontro entre os aspectos racional e masculino e o intuitivo e feminino.

É preferível guardar apenas os sentimentos benignos, nobres e luminosos no cofre do coração, pois certos venenos emocionais podem fazer muito mal a nós mesmos e a quem está ao nosso redor. Cada um faz suas escolhas, entre guardar jóias ou lixo, entre cultivar amor, alegria e gratidão, ou ressentimentos, tristeza, desamor. Destas escolhas dependem não apenas a boa saúde do coração e o bem-estar do sujeito como um todo, mas, também, quais serão os mapas desenhados e os caminhos trilhados ao longo da viagem vital...


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24 de jan. de 2013

DESEJO

"A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo."

(Gustave Flaubert)

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Imagem: "Musicista Onírica".
Pintura de Ana Luisa Kaminski

17 de jan. de 2013

O ESPELHO AZUL DE ANA LUISA KAMINSKI


(por Lau Siqueira) **************************


O que nos interessa no desbravamento dos conceitos de forma e conteúdo é a diminuição das lonjuras. A persistência de um olhar desfragmentado no discurso silencioso da arte. Foi nessa busca, percorrendo versos pelos caminhos da Idade Mídia, que encontrei o lirismo das cores e das formas na obra de Ana Luisa Kaminski - uma artista gaúcha, de Erechim, que vive em Florianópolis. A delicadeza, a sensualidade, a espiritualidade feminina, a perplexidade de uma predominância azul aberta às tonalidades de cada cor. Ana Kaminski faz da sua arte um ato de serenidade, de ousadia, de liberdade, de paixão, de amor e de permanente inquietação. Elabora através das suas imagens, um discurso para as alcateias e passaredos da própria arte. Até que se cumpra o que dizia Mondrian: “a arte desaparecerá na medida que a vida adquirir mais equilíbrio.” Utopia que cabe nas cores e na densidade temática que obra de Ana Kaminski revela. Uma poética de imagens atentas aos desequilíbrios do mundo e buscando recuperá-los.


O auto-retrato é sempre um bom caminho para compreendermos a espinha dorsal de uma produção artística. O encontro ético e estético na distância entre o criador e a criação. Rembrandt foi o artista que mais pintou auto-retratos. Foram cerca de 100 obras neste formato. Mas, de certa forma, toda arte é autobiográfica. Revela com maior ou menor intensidade, a trajetória e talvez a consistência mais plena de uma vida. O artista por sua vez é um ser que transcende a partir dos seus acúmulos, das suas levezas, dos seus afetos e das suas jornadas impactantes. Todas as suas asas e principalmente todas as suas percepções sobre o mundo afinam seus instrumentos. Nossa leitura dos quadros de Ana Kaminski se dá nesta perspectiva. Observando as técnicas utilizadas pela artista lembramos o saudoso poeta concreto Décio Pignatari que dizia ser a poesia um segmento das artes plásticas. Ana Kaminski nos mostra que o inverso também procede. Talvez revelando os antagonismos apontados por Mondrian e os caminhos para a sua inevitável superação. Utopicamente a artista segue em frente, existindo além dos limites. Construindo-se pelos rastros de encantamento, inquietação ou mesmo repulsa que sua verdade artística possa provocar. Ana Kaminski busca suas utopias a partir de uma inegociável transversalidade. Tudo isso num tempo em que, permanentemente, o futuro se encontra com o passado. Todavia, com a suave condução dos rumos apontados pela energia que une os pincéis às suas mãos e às suas conexões sensoriais e lúdicas. É poesia o que brota nas cores de Ana Kaminski! Num profundo espelho de onde a artista extrai da sua existência, de forma sequencial e filosoficamente bem estruturada. Sua arte é uma permanente fotografia da sua alma fêmea.


Segundo Antônio Callado, “o principal problema da arte do nosso tempo, em que estala por todas as juntas a armadura do capitalismo, é criar uma ponte entre o povo e o artista – e por povo entenda-se todo mundo, todos os não-artistas.” Essa ponte, Ana Kaminski encontra de forma consciente e consistente nas redes sociais. Primeiro no Orkut e depois no Facebook ou mesmo no blog Âncoras e Asas (www.ancoraseasas.blogspot.com). O fato é que com estes instrumentos a artista vai encurtando a distância entre a sua obra e um público cada vez mais afinado com seus traços. O que transborda em Ana Luisa Kaminski é a plenitude da artista diante do seu universo criativo. Ela revela em cada pintura um firme propósito estético e uma permanente busca. Nada melhor para representar o que a vida tem de mais intenso, de mais verdadeiro.


(Texto de Lau Siqueira, publicado em seu blog PELE SEM PELE)




PINTURA DE ANA LUISA KAMINSKI