Exercícios poéticos, apaixonados e patéticos: pequenos mergulhos e vôos, para compartilhar...

21 de jul. de 2008

fagulhas, órbitas e eixos...




DERVIXES


Obliterar-se,

buscar o todo
em cada grão de poeira
cósmica, repetir a órbita do

átomo, a anfimixia das
células.

Tornar-se o Verbo
rodopiante, irresistível fagulha
que retorna à fogueira.

O coração como eixo.


(ANA RAMIRO. Outros escritos desta autora no blog Folhas de Girapemba, ver lista de links ao lado.)

Imagem: "Paraíso". Pintura de Ana Luisa Kaminski

7 de jul. de 2008

movimentos vitais


Movimentos Vitais (Ana Kaminski)

Renovar (olhares e mundos)
reciclar (olhares e laços)
reinventar (olhares e mapas)
necessidades vitais
das almas aladas
vivazes-viajantes...

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POESIA DO REAL (Ana Guimarães)

O impermanente, eternizar
a infinitude, aspirar
sonhar
que a morte nada mais é
do que uma porta giratória
pela qual se vai, continuamente, dar
no mesmo lugar

o que poderia me fazer calar
me faz cantar (digo, escrever)
esse canto, mesmo com espanto
que sai do meu bico
esse mito que invento
pra não desistir
pra não ter que encarar o nada
torno-me alada
e no céu da história
plano

transformo música em letra
traduzo, verto, translitero
pego o real pela cauda
e lhe dou um brilho
de estrela

tomo os excessos que escorrem
– selvagens –
como espuma no corpo
e os faço miragem
oásis em solo deserto

o mesmo real que, parece,
partiu minha vida em metades
minou vontades
desenha uma nova imagem
e faz renascer o que não quer morrer
pra sempre

estranha e súbita conversão
a arte, essa desconhecida
visita a perfumar o calabouço
onde há pouco pensava eu
cortar o pescoço

outro ser nasce diante de mim
ou o descubro, não sei
no final (a operação/batalha é vital)
atravesso o espelho
e ganho a guerra:
de novo a desabrochar
a flor do desejo

aquele muro onde me recostava
no escuro
visitando sepulcros
mesmo prenhe de saudade
– ou et pour cause –
emoldura agora um futuro

instantes dissonantes
corpos mortos, em lajes frias
dobrados, como sinos
em bela sinfonia
pura harmonia

e eu que pensava não saber
(não sei) o que fazer
com aqueles restos
de repente via, ouvia
tudo mudar de lugar e de sentido:
a poesia se fazia

falei em calabouço? A liberdade
seu germe, por paradoxal que seja
lá está: na prisão da verdade
não nas tontas e vaidosas
mentiras prontas

...
*Mais poemas de Ana Guimarães podem ser lidos no site VER O POEMA, veja lista de links na lateral.


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Imagem: "KlimtKaminskiano".
Aquarela de Ana Luisa Kaminski.
Releitura de pintura de Klimt.

3 de jul. de 2008

Intervalos



Pinga sobre o papel uma gôta do tinto que bebo tentando atenuar a tristeza... mancha e colore a página, onde traduzo emoções, e vai tingindo, também, pensares, sonhos, sentires... Penso sobre as almas humanas, inquietas. As almas humanas sedentas e desejantes, sensíveis e insensíveis, alopradas. As almas alucinadas, as almas iluminadas... e onde está o intervalo, o interstício invisível entre desejo e medo, azul e alizarin, entre pleno e vazio de sentido?... Suave e sutil diferença, desvão, entre epifania e delírio, alucinação e visão...Contraste crucial entre agonia e gôzo! Entre loucura e lucidez, onde está o limite, e qual será o limiar da paixão, no apetite vital que nos move?... Onde, o segredo da luz?...


Imagem: Pintura "Violinos Oníricos", de Ana Luisa Kaminski