Talvez eu esteja com saudades do céu, com saudades do mar. Desejando pegar o azul para tingir as mãos, como uma artista ou uma alienígena que foge à cor da pele para recriar-se, como uma fantasia. E me lembro também da mítica rosa azul, aquela só existe na imaginação dos poetas, embora jardineiros persistentes a inventem, tendendo sempre para o violeta ou o azul escuro. Nunca o azul turquesa, inatingível matiz que só se encontra em fundos de oceano, pedras raras, peixes exóticos, telas reais ou imaginárias, a vibração de um anjo rebelde, porque o turquesa é vibrante, erótico por natureza...beleza que contém a emergência de alguns estados de espírito. Rapsódia in blue.
(CÉLIA MUSILLI)
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Vai, minha deliciosa tempestade, trabalha e tece, enquanto a semana tece em ti os seus dias, tentáculos de luxo e promessas, sob a fina urdidura de tuas vestes - minha potestade, meu álibi para almejar o que há de mais belo, meu fauno de mármore, minha vitória alada, meu oráculo anunciador de maravilhas, dize então a quem devo indagar quando voltas - aos deuses enfastiados em seus pedestais ou àquela estrada que se abre à nossa frente? Pois já não tenho o poder de inventar saudades, já não existem os dias sem ti (todos eles - imaginados ou vividos - nos pertencem), sóis e luas te levam e te trazem a salvo, sempre a salvo, meu amor, para que estejas em casa, quando o telefone tocar.
(LIVIA SOARES)
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Sentava-se no mar até seu vestido crescer
como crescem as papoulas vistas num rio.
Sentia os plânctons dourarem seu ventre.
Seu ventre como pedra ancorada
desejando chuvas.
Sentia-se embebida no sargaço
no cheiro intolerável das coisas restando.
Quanto mais a brisa vinha
mais descia seu corpo
de mil tentáculos nascendo
e se afogava.
(LUCIANA MARINHO)
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a voz que voa mais alto
e fala do que não sente
é som vazio
por outro lado
sussurros podem ser
grito
feito em fios
(ADELAIDE AMORIM)
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