HORIZONTE
Na vida encontro tantas coisa boas. O sol amanhecendo, escapulindo docemente e tingindo de dourado, rubi e turquesa a amplidão, a chuva que faz com que os passarinhos abram as asas, bico e peninhas para recebê-la em si, gorjeando de contentamento, além das plantas que parecem cantar a cada gota-dádiva recebida.
Poderia enumerar cada um destes milagres,todo momento, horas e dias, no entanto preciso te dizer que o que sempre me intriga na vida, além do constante maravilhar, é pensar o horizonte.
O fato perene é que de onde estiver e para onde voltar minha face, na direção de todos os pontos cardeais, sempre há um horizonte cheio de possibilidades, que parece esperar a partir do meu primeiro dia de vida. E ele está e sempre esteve lá.
Sei então que poderia caminhar em sua direção, de qualquer ponto, por toda a vida e quanto desejasse para, quem sabe um dia, conhecer uma lição prática de infinito. Estarei no ponto de partida, que é também o de chegada, que nos ensina que no dia em que seguirmos atrás do horizonte, princípio e fim se fundem, confundem e já não perduram mais quaisquer destes conceitos além do infinito, contínuum.
Talvez. É, quem sabe também seja este o conceito de vida. Talvez algum dia, sabe-se lá em que milênio, um "haja luz e houve luz" deu início a esta minha ou tua existência terrena para que sigamos perpetuamente, em linhas retas, abauladas, circulares, inteiras ou quebradas - não importa - vencendo ciclos, em direção ao horizonte telúrico, cósmico, sabe-se lá em que dimensão - já que são tantas - além das três que conseguimos compreender.
Sim, o horizonte é tão instigante quanto mágico, miraculoso. Minha definição é modesta diante de tanta grandeza. Faltam sinônimos, adjetivos. Mas ainda posso pensar, e para o pensamento não há limites. E por não ter limites, tanto para o pensar quanto para o desejo, me ocorre neste instante que de nada me valeria a imortalidade se não pudesse levar comigo certa dádiva maravilhosa. Pois, das incríveis mutações de nossa matéria, no surgir e desfazer-se, a cada ciclo, o único bem que poderemos manter na imortalidade são os sentimentos, o que pudermos sentir.
Destes, o amor é a benção absoluta. E é este que me serve, que espero, para o qual vivo. O amor, em todas suas manifestações. O supra-sumo da herança divina que há em cada um de nós e que, antes e depois que o fôlego da vida nos fugir, permanece e nos acompanha. Para sempre e sempre.
Interessante o vagar esgazeado dos pensamentos. Comecei no horizonte e terminei no amor. Como no infinito nada se finda, comecei do amor e...sigo para ver onde vai dar.
(LARA LUNNA)
Manuscrito del horizonte
A modo de un libro imaginario que pudiera escribirse con instantes, con notas inconexas y con imágenes, que quedasen así unidas en su propia elocuencia para enunciar algo intraducible: la vida que no sabe decirse buscándose en su horizonte.
Un manuscrito vivido, por lo que nos vive silenciosamente, que guardase la escritura de aquello por lo que vivimos. Un manuscrito que no existe, que siempre está por escribirse y reescribirse y que quedará por siempre incompleto. De páginas hechas de búsquedas y rastros. Una cartografía del asombro. El latido de una mirada que ve más allá de las superficies. Un manuscrito hecho de niebla y luces.
Un diálogo con el horizonte. Las semillas perdidas y escondidas en el desierto que aguardan la lluvia para germinar. El mar que desconoce su fuerza desgarrándose contra las rocas. Otra vida dibujada en una mirada inesperada que nos abre la existencia y los caminos. La aventura viva que somos y que habíamos olvidado, rescatada en la caricia de un alba que nos muestra la bahía que nos llama. El rastro unánime de lo que nos vivifica.
Un diálogo con el horizonte donde encontramos encarnada nuestra propia dignidad, nuestro mundo de posibilidades no vividas hondamente sentidas contra lo dado y clausurado.
(JUAN BAUTISTA MORÁN)
TEXTOS DE LARA LUNNA e JUAN BAUTISTA MORÁN
IMAGENS: PINTURAS de ANA LUISA KAMINSKI