Exercícios poéticos, apaixonados e patéticos: pequenos mergulhos e vôos, para compartilhar...

9 de mai. de 2011

Estrelas na ilha...


Lampejos

A vida se desfaz e refaz
suspira, vibra e reluz
a cada sonho ou manhã..
.


(Ana Luisa Kaminski)


As minhas mãos mantêm as estrelas,
Seguro a minha alma para que se não quebre
A melodia que vai de flor em flor,
Arranco o mar do mar e ponho-o em mim
E o bater do meu coração sustenta o ritmo das coisas
.


(Sophia de Mello Breyner Andresen)




Só se pode viver perto de outro,
e conhecer outra pessoa,
sem perigo de ódio, se a gente tem amor.
Qualquer amor já é um pouquinho de saúde,
um descanso na loucura.


(João Guimarães Rosa)


Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,
Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
e voar...
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!


(Mario Quintana)



O que não é ainda o que está para ser o que já está a ser
e que não sendo excede sempre em íntima dissonância
que perpetua o mundo para além de nós
e em nós abre uma fenda mas também um espaço neutro
em que a palavra poderá encontrar a rosa do possível
sobre o impossível solo que a nega e que a suscita
O que o ser mais deseja é a integridade de um sentido
que envolva o não sentido que o transponha numa lenta coluna
de existência reunindo a sede e a móvel nascente
que não existe senão no movimento dos passos sobre o deserto
para que a página se ilumine e a boca respire o azul do dia
Mas o poema é sobretudo o movimento do sono adolescente
em que o mundo não é mais que maresia cintilante
e o ritmo das esferas o rolar de uma bola de esterco que um escaravelho empurra.


António Ramos Rosa
em "Génese (seguido de Constelações)"


6 comentários:

Isabel Maria Rosa Furtado Cabral Gomes da Costa disse...

O amor é a alavanca da nossa existência e da nossa condição. Só o amor acende estrelas em nós e permite que vivamos numa nuvem de rosas brancas inundadas de maresia.
E não podemos temer a morte, como não podemos temer a vida, porque "Se quereis contemplar o espírito da morte abri de par em par o vosso coração ao corpo da vida. Porque a vida e a morte são uma só coisa, como são uma só coisa o rio e o mar." - Khalil Gibran, "O Profeta", pag. 54.

Um abraço.

ÍndigoHorizonte disse...

Entregar una estrella es entregar luz y corazón. Bellas imágenes y palabras las que compartes. Gracias, Analuka.

Helen De Rose disse...

Adorei seu blog Ana, suas telas são inspiradoras, parabéns! Bastante sorte e sucesso pra vc! Até mais ler...

Chris Mayer disse...

Moro onde nascem as nuvens. No silêncio mais quente, nas manhãs cheias de horizonte, vejo-as sair do seu berço-vale, flutuando ao encontro da nuvem lá! de cima, aumentando a caravana gasosa, sem nenhuma pressa, acolhida por ser do mesmo tecido, volátil, as vezes choroso, as vezes branco, azul ou cinza, as vezes voraz, me envolvendo alma e cerração, e logo se abrindo, para meu deleite, a surpresa de um novo dia.

(nesse movimento, entre várias saudades, ficou uma pequenina de te perguntar: como estás?)

Chris

Fabrício Brandão disse...

Sempre a sutileza das imagens e versos a nos sugerir que devemos continuar os caminhos.

Beijos, querida!

Teresa Cristina disse...

Cara Analuka,

Tomei conhecimento de sua obra, textos e pinturas, via blog de um amigo comum.
A composicao final e' magica...
Serei sua seguidora..
Grande abraco