Exercícios poéticos, apaixonados e patéticos: pequenos mergulhos e vôos, para compartilhar...

29 de out. de 2007

Confluências Aladas

Esta postagem é uma homenagem às almas amantes da poesia, Glória Azevedo, Bárbara Lia, Adelaide Amorim e Lau Siqueira, por tornarem o mundo mais belo, vivo e pulsante ao espalharem suas sementes, pólens e pétalas pelos caminhos curvilíneos da existência. Meu beijo alado e pintado a todos!

SILÊNCIOS

O tempo de introspecção é o tempo do reencontro. Pode ser a percepção de que há portas pedindo para serem abertas, pode ser o definitivo abandono de porões antigos.

Descer a si pode ser perder-se no não-encontro, mas pode ser, também, e quase sempre o é, a possibilidade de equilíbrio por entre o que se pensava não mais nos pertencer (e só nos pertence o eu que já fomos; os outros que não somos nós configuram nosso "estranho estrangeiro" e não nos dizem respeito).

A nossa vida é feita de Sim, costumeiramente seguido de Mas e seus difíceis penhascos. É nos penhascos que nos seguramos.

O silêncio é também um diálogo e um tempo grávido de acontecimentos, mesmo que seja tão diafanamente pólen.


(Glória Azevedo) Mirante das Inutilidades


ROSA CHÁ AZUL ANIL

Alma rosa chá.
Vestida de rosa chá.
Na casa rosa areia.

Leva - enquanto passeia -
um oceano de espantos
nas mãos:

Cinzas de rosas
no ar do quarto do avô
morto.

Mistério ácido na boca
- sabor do fruto vítreo -
de figueira desconhecida.

Açúcar cristal brilha
- mínimas estrelas -
nas mãos.

Céu rosáceo de Dali
desce ao chão
e incendeia
o futuro lilás:

rosa chá + azul anil

Linhas do destino
emaranhadas
- já no ventre
de nossas mães.

E apenas agora
o homem sagrado
envolto em acordes
de estrelas no cio.

- meu azul demorado!


(Bárbara Lia) Chá para as borboletas



FOTOGRAFOBIA

Guardo as imagens que recolho na memória.
Ou mesmo na falta dela.

Sou um pensador de memórias não vividas
para uma vida de tecer memórias antigas...


(Lau Siqueira)

QUARTA CAPA

O poeta é o que busca
na palavra a dimensão do átomo.
O silêncio extremo por detrás
de cada fato.
O poeta é o etéreo e o ácido
na pele dos valores estáticos.

Estéticos são seus baralhos.

O poeta é o vapor barato e o
lance de dados.
O acaso e o atalho.

Macalé e Mallarmé
no mesmo saco;

O poeta é um guapo.


(Lau Siqueira) Poesia Sim




DIVINAÇÃO

a matemática rendada do poema
pousa questões sem resposta
até onde a vista alcança

uma razão lançada sobre o poema
é uma rede vazia imaginária
de pressupostos ininteligíveis

a malha que tentou conter o poema
plena desfaz-se em fibras
e entrega sua razão ao mar aberto

a santidade que envolveu o poema
errante e transgressora
fura de irrestrições o seu tecido

porque o poema é trêmulo e transpira
cabe talvez num sonho dissoluto
mora no instante mesmo em que se esconde


(Adelaide Amorim) Inscrições

*Imagens: Pinturas de Ana Luisa Kaminski

24 comentários:

Anônimo disse...

Analua, somente uma pessoa iluminada como você para um gesto tão carinhoso. Eu amo você!

Héber Sales disse...

acertaste na mosca!
foi pelo coração?

Lapa disse...

THIS IS REALY A NICE BOOK

"MIGUEL TORGA O LAVRADOR DAS LETRAS", BY CRISTÓVÃO DE AGUIAR

Lady Vania de Tróia disse...

Ana Luisa..
Que lindo tributo mais que merecido à tão grandes e bons poetas...mas faltou tua inclusão dentre eles, minha artista poeta e criadora peculiar de um padrão consciente e organizado de poesia,cores,nuances e letras azuis...
beijos prá ti minha dama do sótão,generosa e fazedora de sonhos.
Celebro-te!!!

Luciana Marinho disse...

Eu me dou a silêncios grandes quando aceito os convites azuis de Ana. Por isso só, já sou grata. Mas, esse "isso só" é um labirindo de sensações e ternuras e alentos. Fico admirada com a simplicidade de que é feito este recanto. De sentir como tudo, vivendo aqui a partir do gesto de Ana, se une aos gestos de outros por sensibilidade e beleza. Poemas lindos. Imagens lindas. Pessoas belas se ofertando pelos toques de Ana. Ou melhor, se tocando pelas ofertas de Ana. Beijo grande no teu ser suave e íntegro, Analuz. E muita Paz.

Anônimo disse...

Oi Ana!
Fiquei encantada com o gesto, com o carinho e a simplicidade que fizeste esta homenagem a pessoas tão especiais que eu admiro muito. Lindos e iluminados poetas! Sinto-me contente e privilegiada por poder fazer esta visita. Muito obrigada pelo maravilhoso e inesquecível momento.
Parabéns. Tu és linda!

Mustafa Şenalp disse...

blqçok güzel bir site.

Vera Iana disse...

Lau Siqueira...

Tudo o que ele escreve
vai fermentando em mim.


Adubando.

Romance Rosa de Sarom disse...

poesia e cor .. os meus parabens luisa..

Fabrício Brandão disse...

Querida,

Que time bacana este aqui reunido. Confesso que acho tão acertada essa forma de compartilhar os espaços com outros autores.

Beijos, bela anfitriã!

Leila Andrade disse...

Bela confluência. O silêncio e o azul logo me acolheram nessa dança conjunta.

Bjs, querida

dade amorim disse...

Ana, nem sei o que dizer. Tão boa companhia, tanto carinho... Você torna mágico o espaço que envolve em seus azuis e sua simpatia.
Beijo beijo beijo.

Anônimo disse...

Ana Luisa Lilás, sua generosidade em partilhar seu espaço azul é encantadora! Lembro que escrevi esse texto pra você, por causa de um texto seu, postado aqui.
um beijo encantado,
g.

livia soares disse...

Que lindo, Ana...
Poesia entremeada pelas tuas intervenções diáfanas...
vir aqui faz bem à saúde.
Um abraço.

Linda Graal disse...

...esse sítio é sempre surpreendente e, por isso, belo!!!
envolta de excelentes companhia, Ana...tudo refulge no que pintas...

amplexos sempre maiores!!

Paola Vannucci disse...

Nossa Ana

que fina essas poesias

adorei passar por aqui

homenagem merecida

Beijos

Anônimo disse...

Lindos textos vc deixou plantados aqui.. um grande beijo e um dia de LUZ pra vc...

Carlos Henrique Leiros disse...

Caríssima Ana;
Gestos magnânimos como este sempre nos enternecerão. Fico aqui imaginando a reação de cada homenageado [não a reação aqui explícita, mas a que guardaram em seus corações], e vejo quão importantes são as amizades que cultivamos.
Você com sua Arte e seus abraços azúis sempre francos, deixam-nos a todos espiritualmente elevados.
Abraço do amigo.
Carlos

Bárbara Lia disse...

Ana,
sempre que tento comentar não dá, hj consegui!!!!
fico sempre feliz quando minha poesia encontra outro azul,
bjs

Anônimo disse...

Quanta plenitude,
quanta sensibilidade
que me chama para o
silêncio que antes,
eu não sabia ser azul.

Vera Basile disse...

Belo encontro!!!!
Bela homenagem!!!
Belíssimo resultado!!!!!
Parabéns a Glória, Bárbara, Adelaide e Lau por seus poemas tão lindos!!!
E principalmente, parabéns a vc Ana, por sua arte e iniciativa!
beijos :)

Maria disse...

mais do que um passeio, uma viagem, é uma alegria e um aconchego vir aqui. sempre me deparo com belíssimas imagens e palavras que exalam tanta poesia, tanto lirismo...não conhecia a Glória, nem a Bárbara, nem a Lau (mas adorei todas), e da Adelaide já sou fã !!! beijos

L. Rafael Nolli disse...

Ana, linda a homenagem! Tudo azul-celeste por aqui - um colírio o teu blog! Concordo contigo quando diz que essas poetas tornam o mundo mais belo! O poema da Adelaide é muito interessante! Nossa!

Lunna Guedes disse...

E eu aqui a ouvir Habanera de Bizet enquanto degustava cada verso.
Sua delicadeza mais uma vez me deixa sem palavras. As vezes o silencio é mais sábio que toda e qualquer palavra.

Ps. Silence im my soul. (eu nunca consigo acentuar a palavra silencio). Mas obrigada pela observação, geralmente esqueço os acentos devido a pressa, mas no caso dessa palavra é falta do hábito com relação a língua.

Beijos, obrigada pela visita e pelo seu carinho...